domingo, 3 de dezembro de 2017

COMO VOCÊ INTERPRETA?! – XXXVI

Realmente, o caso Tobias, inserido no capítulo 38 de “Nosso Lar”, é um desafio à capacidade de compreensão dos espíritos que não possuem mais avançada noção de fraternidade na Terra. No capítulo seguinte, de número 39 – “Ouvindo a Senhora Laura” –, a mãezinha de Lísias chega a dizer a André Luiz: - “Quando nos atemos aos pontos de vista propriamente humanos, essas coisas dão até para escandalizar.”
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Possivelmente, inclusive, este terá sido um dos pontos mais contestados da obra, quando “Nosso Lar”, editado pela FEB, foi lançado em 1944, tratando de um assunto considerado tabu, mesmo numa Doutrina de vanguarda espiritual quanto o Espiritismo.
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Recordo-me que, quando André Luiz escreveu “Sexo e Destino”, obra, igualmente, editada pela FEB, cujo prefácio é de 1963, Chico contou-nos que foi visitado por um dos diretores da “Federação”, em Uberaba. – “Ele nos disse, em tom de repreensão – contou Chico –, que não sabia em que lugar de sua casa ele haveria de colocar o livro, visto que possuía filhas menores... Eu, simplesmente, lhe respondi: - Onde o senhor irá colocar o livro em sua casa, eu não sei, mas na minha ele ficará em lugar de destaque na estante...”
 Vejamos o que, mesmo no meio espírita, seja o moralismo e o preconceito. “Sexo e Destino” é obra extraordinária, repleta de elevado conteúdo moral, abordando o tema da sexualidade, que é assunto humano, com belíssima prece de Emmanuel no prefácio, que, ao dirigir-se a Jesus, afirma, recordando o episódio da mulher adúltera: “Jerusalém agora é o mundo!...”
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André Luiz, depois da visita realizada à casa de Tobias, procura Dona Laura, porquanto ele próprio se mostrava um tanto alarmado com a situação doméstica do companheiro em ”Nosso Lar”, acolhendo em sua residência Hilda e Luciana, que haviam sido, respectivamente, a sua primeira e a sua segunda esposa na Terra, de vez que, Tobias, por se ter enviuvado muito cedo, desposara Luciana em segundas núpcias.
Dona Laura, sem rodeios, disse a André: - “Não será fácil para você, presentemente, a penetração, no sentido elevado, da organização doméstica que visitou ontem...”
E, em seguida, sublinha: - “O caso Tobias é o caso de vitória da fraternidade real, por parte das três almas interessadas na aquisição de justo entendimento. Quem não se adaptar à lei de fraternidade e compreensão, logicamente não atravessará essas fronteiras.”
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Recordamo-nos, sim, meu amigo, das críticas maldosas dirigidas ao livro de Paulino Garcia, intitulado “Meu Filho Nasceu no Além”, recebido por seu intermédio, editado pela LEEPP – Uberaba. Sei que alguém, não escondendo a sua revolta, ao constatar a questão do casamento no Plano Espiritual – Paulino unindo-se à Jamile, que se engravidou e teve um filho – e a questão dos casais homossexuais, bradou a sua revolta: - “Quer dizer, então, que, no Mundo Espiritual, continua a mesma p...?! A mesma sem-vergonhice?!...”
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Dias atrás, a visita da filósofa americana Judith Butler ao Brasil, apenas para a realização de uma conferência, aos gritos de “queimem a bruxa”, terminou com feroz agressão física a ela, justamente da parte de uma mulher que se revelou extremamente preconceituosa – em vez de manifestar-se pacificamente, ela voltou-se contra outra que procurava defender a filósofa, dizendo: - “Quem é você? Você é feia! Olha esse cabelo, olha essa sua cor...”
Ah, como somos ainda assim tão pequeninos e miseráveis!...
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Vale a pena que os nossos irmãos internautas releiam com atenção os capítulos 38 e 39 de “Nosso Lar”, um livro, sobre todos os aspectos, muito avançado para o seu tempo, e, talvez, passados já mais de 70 anos de sua concepção mediúnica, uma obra ainda muito avançada para os dias atuais.
Ao fim do diálogo com Dona Laura, André sentencia:
- “Agora não mais me preocupava a situação de Tobias, nem as atitudes de Hilda e Luciana. Impressionava-me, sim, a imponente questão da fraternidade humana.”

INÁCIO FERREIRA

Uberaba – MG, 4 de dezembro de 2017