segunda-feira, 11 de novembro de 2019


SOBRE O LIVRO “TRANSGÊNERO” Entrevista com o Dr. Inácio Ferreira

- Dr. Inácio, por que escreveu o livro “Transgênero”, recentemente lançado pela Editora LEEPP?
- Porque é um tema atual, ainda pouco estudado na Doutrina, e, principalmente, por tratar-se de um fenômeno psicológico que vem acontecendo dos Dois Lados da Vida. Além de espírita, sou um estudioso da psique, e, antes de escrever “Transgênero”, tivemos oportunidade de escrever uma trilogia sobre as questões relacionadas ao “ego”: “Egos em Conflito”, “Egos em Paz” e “Alma do Mundo”.

- Não teme as críticas, por ser o autor de uma obra que, até certo ponto, aborda tema polêmico?
- Em absoluto. Nada escrevo para obter elogio. Toda opinião séria me interessa, mas não me deixo afetar pelos críticos de plantão. Desde que escrevemos “Sob as Cinzas do Tempo”, eles nos elegeram por um de seus alvos preferenciais. Sou um homem fora do corpo, e, sendo assim, tenho o direito de me expressar. Os espíritas de pequeno conhecimento acham que todo espírito que entra em contato com os médiuns na Terra são criaturas angelicais, e não nos dão, a nós, os desencarnados comuns, o direito de ser o que somos – o espírita quer “santificar” os seus Mentores.

- Então, o Dr. Inácio Ferreira?...
- Sou um homem desencarnado, um espírito em trânsito, estudando e aprendendo sempre. Tive, quando encarnado, na condição de médico no “Sanatório Espírita”, de Uberaba, oportunidade de lidar com os intrincados temas da sexualidade humana. Aliás, quase todos os nossos internos faceavam problemas dessa natureza. Creio mesmo que, sobre a Terra, poucos são aqueles que não os faceiam. Ou estarei enganado?! Pode ser que, neste momento, algum anjo esteja lendo estas minhas palavras, e, com certeza, já tenha superado os seus conflitos sexuais – que Deus seja louvado!

- Não obstante, o livro, por tratar de assunto tão delicado, não deixa, inclusive, de expor o instrumento mediúnico, não acha?!
- Exporia, talvez, um instrumento mediúnico intimidado, mas não o nosso amigo que conheço de longa data, e que, juntos, já escrevemos cerca de cinquenta obras. Claro que a maledicência não perde oportunidade alguma para enlamear aqueles que inveja. Os mais ou menos bons – os Espíritos nô-lo disseram em “O Livro dos Espíritos” – carecem de ser um pouco mais ousados – o espírita que não dá cara a tapa não testemunha a fé! Infelizmente, muitos irmãos e irmãs de Ideal são os que chamamos de “taipeiros” – estimam ficar “em cima do muro”, por interesses exclusivamente pessoais.

- Percebe-se que tratou o assunto de maneira muito extrovertida, não?!
- Um pouco, talvez. O tema, por não deixar de ser, digamos, inabitual, na literatura espírita, carecia de ser abordado com certa leveza e descontração. Escrever um volume, de quase trezentas páginas, sobre transgeneridade, sem caçoar um pouco mais do Manoel Roberto, seria tornar o livro intragável. E, depois, o nosso propósito, foi o de apenas abrir espaço para que outras opiniões venham à baila. Embora psiquiatra, e continue estudando na Vida Espiritual, não sou o que se denomina, propriamente, de expert no assunto. Que outras vozes, mais abalizadas, não se omitam. Kardec, praticamente, não teve oportunidade de tratar do tema, como não tratou de outros que se acentuaram, ou surgiram, após a Codificação.

- Crê que a transgeneridade seja mesmo um fenômeno psíquico?
- A nível mundial, e precisar-se-ia ser cego, ou extremamente preconceituoso, para não admiti-lo. E, repito: fenômeno que se observa dos Dois Lados da Vida! O espírito carece de vivenciar múltiplas experiências em sua jornada evolutiva, e, se do ponto de vista biológico, o homem é macho e fêmea, do ponto de vista psíquico, ele é uma “multidão”. Tal fenômeno não sofrerá regressão – há de se acentuar cada vez mais, levando a Humanidade a muitas reflexões, revisão de conceitos, e, sobretudo, preconceitos.

- O livro foi revisado pela Editora?
- Foi, e não me agradou muito, não. Todavia, entendo que, em maioria, estamos nos dirigindo a mentes ainda um tanto infantilizadas, apegadas a dogmas e preconceitos, e que se revelam incapazes de compreender simples brincadeira, feita com o propósito de amenizar o peso da Verdade. A Editora ficou com receio de que, mais uma vez, eu fosse chamado de “mistificador”, e até de gay, junto com o médium. Ora, esse risco foi calculado. E, tanto a mim quanto a ele, não molestou nem um pouco.

- Podemos esperar o “Transgênero 2”?
- Por mim, o 2, o 3... Não sei, contudo, se contaremos com oportunidade mediúnica para tanto. Eu tinha vontade de efetuar uma visita àquele padre pedófilo que mora na barranca do Rio Tietê, em São Paulo... Estudar uma mente em transitório estado de insanidade é um aprendizado e tanto. Freud que o diga. Neste sentido, infelizmente, quando eu me encontrava encarnado, os meus estudos foram muito superficiais – sei que fiquei a dever. Hoje, os tempos são outros, e a minha visão também.

- O senhor acha o espírita moralista?
- Não, com exceções, eu acho o espírita bobo – bobo e vaidoso. Mas, isso é com cada um, não é?! Cada qual é bobo à sua maneira. Espírita, meu caro, quando vai para a “mídia”, e “mídia” entre aspas, porque a mídia espírita praticamente inexiste, costuma ficar encantado com a própria figura – é Narciso reencarnado! Dias atrás, eu perdi um pouco do meu tempo ouvindo um orador na carcaça – ele ficava embevecido com o som da própria voz, provocava pausas requisitando aplausos... Saí no meio da palestra e, para não fazer o número 2, fui fazer o número 1.

- Deseja acrescentar algo?
- Não. Está de bom tamanho. Apenas desejo cumprimentar o médium que agora, no último dia 9, completou 67... Somando com os meus 84 terrestres, eu e ele formamos uma dupla de 151 anos, e, portanto, não temos que dar satisfações a ninguém. Graças a Deus, somos libertos – não temos o rabo preso! Você não imagina que felicidade seja essa! Agradeço aos amigos e amigas que nos incentivam e encorajam – gente boa, que não se esconde atrás do anonimato covarde de gente que não tem cara – acho que não apenas cara! – para mostrar.

INÁCIO FERREIRA

Uberaba - MG, 11 de novembro de 2019.