segunda-feira, 29 de maio de 2017

COMO VOCÊ INTERPRETA?! – X

Prosseguindo com as nossas reflexões, em forma de perguntas, sobre o livro “Nosso Lar”, no capítulo 22 – “O Bônus-Hora” –, nos deparamos com minuciosa elucidação de Laura a André Luiz em torno da remuneração ao trabalho no Mundo Espiritual. Vejamos que, além da morte, o trabalho, por alguma espécie de ganho, o ainda carece de “incentivo” nos espíritos – a ambição, sem dúvida, é uma das paixões (pergunta 907, de “O Livro dos Espíritos”) que mais impulsiona o homem ao progresso, embora, por outro lado, também seja uma das que mais o compromete perante a Lei de Causa e Efeito.
A certa altura de sua preleção, Laura esclarece: “Todo o ganho externo no mundo é lucro transitório.” Notemos o conceito extraordinário que, caso norteasse os encarnados, impediria que, dominados pela ambição desmedida, eles viessem a cometer tantos equívocos, nos quais, a fim de se redimirem, terminam por gastar séculos.
“O verdadeiro ganho da criatura é de natureza espiritual e o bônus-hora, em nossa organização, modifica-se em valor substancial, segundo a natureza dos nossos serviços.” – pontifica a lúcida personagem da obra em estudo.
Apenas com as duas considerações acima, concluímos que, de fato, quando o dinheiro deixar de ser o que, na atualidade, ele representa para a Humanidade, automaticamente, serão eliminadas certas mazelas que engendra: egoísmo, corrupção, poder, injustiça, apego, etc. Então, uma palavra muito em voga nos tempos modernos – propina – perderá toda a sua força de ação.
Em “Nosso Lar”, que não podemos considerar além de uma cidade espiritual de mediana evolução – ela localiza-se na Dimensão Umbralina – o idealismo, em suas primeiras letras, começa a ser aprendido pelos espíritos, sobrepondo-se ao sentimento de posse.
Laura, um pouco mais adiante, no mesmo capítulo, considera: “Compreendemos, aqui, que nada existe sem preço e que para receber é indispensável dar alguma coisa.”
“... nada existe sem preço...”, porém o dinheiro, como valor aquisitivo, em sua qualquer forma de expressão, é próprio dos mundos inferiores. Ele exerce tal fascínio sobre os espíritos que Râmakrishna evitava sequer tocá-lo, e, igualmente, não se tem notícia de que Jesus Cristo o tenha tocado – a moeda do imposto devida a César é examinada na mão de quem a apresentou a Ele.
Interpelada por André Luiz a respeito do problema da herança em “Nosso Lar” – sim, que fosse motivada pelos bens móveis (“bônus-hora”) e imóveis (propriedades em geral) –, Laura respondeu: “Tenho comigo três mil Bônus-Hora-Auxílio (ela era servidora do Ministério do Auxílio) no meu quadro de economia pessoal. Não posso legá-los a minha filha que está a chegar, porque esses valores serão revertidos ao patrimônio comum, permanecendo minha família apenas com o direito de herança ao lar; no entanto, minha ficha de serviço autoriza-me a interceder por ela e preparar-lhe aqui trabalho e concurso amigo (destaquei), assegurando-me, igualmente, o valioso auxílio das organizações de nossa colônia espiritual, durante minha permanência nos círculos carnais.”
Como o “dinheiro” de Laura seria revertido ao patrimônio comum?! Vocês já imaginaram se, na Terra, os pais não pudessem transferir os seus ganhos materiais para os filhos?! Seria maravilhoso, não?! Fazer reverter ao patrimônio comum, em forma de benefícios para a coletividade, os valores acumulados?! Inclusive, tal medida viria a ter enorme e benéfica influência na educação dos espíritos. Em certos países, alguns milionários já estão legando, em testamento, a sua grande fortuna a pesquisas de natureza científica ou a Fundações que trabalham pelo bem social da Humanidade – enquanto muitos estão tirando do patrimônio comum, como, infelizmente, no caso do Brasil, alguns raros estão começando a lhes destinar as suas economias.
Ao que nos parece, no entanto, as medidas econômicas que vigem em “Nosso Lar”, foram estabelecidas através de regras, ou de leis, que, com certeza, foram propostas e aceitas pelos moradores da cidade, desde a sua fundação no século XVI. Observemos que Laura, ao se referir à sua possível herança, disse: Não posso legá-los à minha filha...”
Quem aceitaria viver numa cidade, ou num país, em que as regras fossem tais?!...

INÁCIO FERREIRA

Uberaba – MG, 29 de maio de 2017.