domingo, 13 de dezembro de 2020

 

MAR E PRAIA

 

Qual a água do mar toca a praia, e a encharca, assim é o Mundo Espiritual próximo, em relação à Terra.

Notemos que os banhistas, muitos deles, em seus trajes menores, à feição dos desencarnados, permanecem num estado de transição – continuam tão humanos que, quando logram se retirar da praia, deixam-na quase completamente repleta de lixo.

A praia, por assim dizer, é o “Umbral”, a Dimensão intermediária entre a cidade e o oceano – entre a Terra e o Mundo Espiritual livre.

Raros são os banhistas que, por saberem nadar, se aventuram mar adentro, distanciando-se da praia.

A esmagadora maioria, quando se vê fora do corpo, com receio do Infinito, não ousa mais que molhar os pés – depois de breve bronzeado, deliberam voltar à cidade e retomar a segurança de quem pisa em chão já conhecido.

Dando as costas para o Infinito, ou seja, para o Mundo Espiritual de natureza mais transcendente, opta pelo regresso à vida comum – toma um banho quente em casa e procura se livrar de toda e qualquer lembrança da areia das praias do litoral.

Não obstante, o oceano, ou seja, o Mundo Espiritual, em suas águas mais rasas ou mais profundas, permanece na expectativa de quem seja capaz de desbravá-lo.

Até o presente momento, poucos são os banhistas que, exímios nadadores, arriscam-se a ir um pouco mais longe, e, depois, retornam procurando encorajar os mais temerosos a não se contentarem com apenas molhar os pés, ou dormir sob as sombrinhas postadas na areia da praia.

Realmente, para que alguém se aventure mar adentro é preciso que tenha aprendido a nadar, e mergulhar, assimilando, inclusive, a técnica da flutuação.

Alguns têm tanto receio do mar que preferem, embora em trajes de banho, permanecer num dos bancos da calçada, à sombra de uma palmeira, repetindo de maneira inconsciente: - Eu quero a minha mãe!...

E é justamente esse desejo, o de querer a mãe, que faz muitos banhistas retornarem mais depressa às suas casas, entrarem num pijama e dormir ao barulho da maré...

Contudo, o mar permanecerá onde sempre esteve – desafiador. E quem não vencer o medo do Infinito nada conseguirá, por muito e muito tempo, mais que pisar na areia da praia e permitir que a água do oceano lhe toque os pés.

A praia é o “Umbral” dos espíritos que deixam o corpo – praia, diga-se de passagem, repleta da presença humana dos banhistas que não se preocupam com o meio ambiente.

O Espiritismo é excelente “escola de natação”, para que os futuros banhistas percam o medo das águas do oceano e comecem a bracejar na direção do Infinito.

Mas, por hora, o receio de afogamento vem predominando na maioria dos banhistas, que, como eu, literalmente, nunca puderam realmente aprender a nadar sequer numa piscina – eu tinha medo de afogar até debaixo do chuveiro, ou, quando era mais menino, até na bacia d’água em que minha mãe me colocava para que eu pudesse me livrar da poeira cotidiana de minhas traquinagens.

Todavia, é verdade que tem banhista na cidade que sequer nunca foi à praia – eu penso que deve ter medo de ser puxado pelas ondas do mar...

Por este motivo, meu caro, se você quiser, o Espiritismo também pode ser, para você e para muita gente, um “Manual de Natação”, que, talvez, quando você for à praia, consiga encorajá-lo a entrar no mar da Vida Mais Alta com a água lhe dando, pelo menos, à cintura.

 

INÁCIO FERREIRA

 

Uberaba – MG, 13 de Dezembro de 2020.