domingo, 24 de agosto de 2025

 

 

Desencarnação e Frustração

 

(Síntese de um Diálogo)

 

 

 

- Dr. Inácio, estou decepcionado comigo mesmo... Fui espírita...

 

- Foi espírita?!...

 

- Fui, sou ou serei... Não sei...

 

- Humm...

 

- Eu não acreditava muito... Deixei o tempo passar quase em vão...

 

- Desperdício de tempo na encarnação é queixa comum aos que, pelo menos, têm consciência de que não estão mais na Terra de baixo...

 

- Nunca presenciei um fenômeno mediúnico que poderia classificar como autêntico...

 

- Eles são raros...

 

- Nunca vi um espírito, nunca ouvi...

 

- Não se olhava no espelho, não escutava a sua voz interior?!... Espírita não precisa ver espírito para ser espírita – basta ver a Doutrina com a sua lógica irrefutável...

 

- Sim, mas eu...

 

- Balançava na fé?!...

 

- Como espírita, eu tinha tudo para que a minha encarnação fosse mais proveitosa...

 

- Concordo e digo: eu também...

 

- Mas... Até onde sei, o senhor fez...

 

- Pouco, muito pouco, quase nada, zero...

 

- Se o senhor pensa assim, então eu...

 

- A Doutrina sempre nos dá mais do que damos a ela...

 

- Doutor, vivi no corpo quase 80 de idade... Praticamente, nasci em berço espírita... A minha avó era médium, uma tia, uma cunhada...

 

- O que posso fazer por você?!...

 

- Eu queria que o senhor me consolasse... Estou muito triste comigo... E agora?!...

 

- Reencarnação, meu amigo...

 

- Temo falhar de novo...

 

- É possível... Se não tomarmos cuidado, se não levarmos o Cristo conosco para a carne... Conheço um montão de gente...

 

- Como?!...

 

- Que está lá embaixo sendo como você diz que foi...

 

- Doutor, não deixa, não... Sei que o senhor escreve para a Terra...

 

- Conhece a Parábola de Lázaro e o rico avarento, anotada por Lucas, o Evangelista?!...

 

- Sim, sim, mais ou menos...

 

- Pois é... Eu não sou Abraão e eles têm um monte gente lá embaixo...

 

- Reencarnação, e essa questão do esquecimento do passado...

 

- O problema, meu caro, não é propriamente de esquecimento do passado, mas, sim, de esquecimento do dever...

 

- É... Entendo o que o senhor, sem dizer, está querendo dizer...

 

- Muitos querem ter a certeza de que ser bom vale a pena, caso contrário...

 

- (Silêncio)...

 

- Infelizmente, tem muito espírita que continua sendo médium sem crer em nada...

 

- (Lágrimas)...

 

- Continua, por que, sem Jesus, como perguntou Simão Pedro, para onde iremos?! – para onde e para quem?!...

 

- (Soluços)...

 

- Tenha calma...

 

- Doutor, mesmo deste Outro Lado, continuo perdendo tempo... O que fazer?!...  

 

- Uma vassoura faz milagres... A minha eu não posso lhe dar, mas posso lhe conseguir uma...

 

- Vassoura?!...

 

- Sim, convém que sempre reencarnemos, ou desencarnemos, com uma vassoura nas mãos... Em vez de flores, vassoura no caixão... Assim, a possível frustração que experimentarmos será sempre menor...  

 

- (Reflexão)...

 

- Com uma boa piaçava nas mãos, você não se perderá... Conheço muita gente lá embaixo perdida na tribuna, perdida na mediunidade, perdida em tanta vaidade e personalismo, mas não conheço ninguém que, de vassoura nas mãos, esteja perdido!...

 

(O interpelador olhou para as próprias mãos, lisas como papel de seda, sem um calo sequer que o salvasse e... retirou-se.)

 

 

 

INÁCIO FERREIRA

 

Uberaba – MG, 24 de agosto de 2025.