Continua Trabalhando!
Minha irmã, você me escreve dizendo-se desanimada ante tantos problemas que a Humanidade está faceando na atualidade, com o materialismo ameaçando as melhores conquistas da civilização – diz-se, inclusive, entristecida com os conflitos que observa entre os próprios adeptos da Doutrina, com a vaidade e o personalismo fragilizando o nosso Movimento, já tão fragilizado depois da desencarnação de Chico Xavier, ocorrida em 2002.
Solicita-me uma palavra, não de orientação (que me reconheço incapaz de orientar quem seja), mas de irmão que, igualmente, quando no corpo, deve ter vivenciado muitas lutas e nunca ter se entregado ao desalento.
Sim, é verdade, minha irmã... Quando mais encarnado que hoje eu me encontro, as lutas não eram assim tão menores – veja que, quando estive por aí, a Terra enfrentou duas Grandes Guerras, a de 1914 a 1918 e a de 1939 a 1945, como também a pandemia da “gripe espanhola”, que começou em 1918, logo ao término da Primeira Guerra... No Brasil e no mundo, o clima político sempre foi instável – se, em relação à situação de agora, havia diferença, é que a gente não ficava sabendo de muita coisa que, atualmente, com a velocidade de um relâmpago, é colocado à mostra na Internet, como as vísceras de um cadáver em uma sala de anatomia.
Quanto ao Espiritismo, minha cara, as lutas se desdobravam em dois campos: sofríamos a perseguição dos adeptos de outras religiões e, intramuros, não satisfeitos com a oposição externa, nos desentendíamos quase como nos desentendemos agora. Surgiu até o denominado “Pacto Áureo”, em 5 de outubro de 1949, com o intuito de pacificar os exaltados ânimos espíritas, na incessante peleja pelo poder doutrinário (científicos versus místicos), “Pacto” que, em essência, poucos colocaram e colocam em prática em face das ingerências do Movimento Unificacionista, que tem à frente, através de seus órgãos, um punhado de padres e freiras reencarnados, e, quiçá, bispos, arcebispos, cardeais e madres ou abadessas, quase todos, como dizia João, o Batista, fugindo da “ira vindoura”...
Você, ainda na carta que me escreveu, afirma que, em sua opinião, estão tentando fazer agora com o Espiritismo o mesmo que foi feito com o Cristianismo – opinião da qual partilho completamente.
Bem, a orientação que eu posso lhe transmitir é a que sempre elegi para mim mesmo sob a inspiração da Abençoada Doutrina que nos acolhe e dos exemplos vivos que Chico Xavier nos transmitia em sua própria vivência: Continuar trabalhando, deixando que o trabalho, em sua silenciosa eloquência, diga por você tudo o que, se pudesse, estimaria dizer do alto de uma pirâmide qualquer, que pudesse ser mais alta que o Evereste...
Eu não sei se você sabe, mas, aproveitando, digo-lhe que Chico, depois que se aposentou de seu serviço na “Fazenda Modelo”, passava a maior parte do dia, em suas vinte e quatro horas, trabalhando em silêncio, e praticamente sozinho, dentro de casa – psicografava, escrevia cartas, endereçava impressos espíritas pelos Correios, tratava de seus bichanos, ou de seus cães de estimação, enfim, não parava de se ocupar com algo útil – claro, saía para ir ao Grupo Espírita da Prece, comparecia a lançamentos de livros, atendia a periódicos convites para, em nome da Doutrina, receber títulos de “cidadania”, e quando, de táxi, descia ao centro de Uberaba, era para um rápido cafezinho, adquirir jornais em uma banca e passar pela Livraria Católica onde tinha amizade com as irmãs que a dirigiam e que sempre se alegravam com a sua presença...
Então, minha irmã, não se deixe deprimir pela situação geral do mundo que, neste 2025, está cumprindo o primeiro quartel do primeiro século do Terceiro Milênio – este século promete, e promete coisas boas, porque, nos 75 anos que faltam para que ele se complete, não mais estará sobre a Terra nenhum tirano como também nenhum líder religioso personalista – os espíritas atuais, inclusive você – desculpe-me –, já terão batido as botas... Não é maravilhoso?!... O tempo, que não cessa de transpirar e nem pensa em aposentadoria, continuará fazendo o seu trabalho, silenciosamente!...
Imitemo-lo, perseverando, em silêncio, no cumprimento do dever, sem consentira que nada e ninguém nos derrubem o ânimo de seguir sob as bênçãos misericordiosas do Cristo.
Abraços cordiais.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 17 de agosto de 2025.
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