Espiritismo em Queda? – I
Amigos me escrevem perguntando se posso opinar sobre certo
levantamento do IBGE, creio de 2022, em que o Espiritismo aparece em
queda quanto ao seu número de adeptos.
A confiar-se na pesquisa apresentada, podemos, sim, emitir o nosso
parecer a respeito do assunto, começando por dizer que, infelizmente,
desde 2002, portanto há 23 anos, quando Chico Xavier desencarnou,
observamos uma mudança nos rumos do Movimento Espírita.
O Espiritismo nunca esteve, não está e jamais estará em queda como
Doutrina de Tríplice Aspecto, de vez que, com o avanço da Ciência,
muitos de seus postulados vêm sendo confirmados e haverão de sê-lo cada
vez mais.
Na revivescência do Cristianismo, o Espiritismo, conforme no-lo
dizem os Espíritos Superiores, está em a Natureza, e sempre existiu,
posto que seja um conjunto de Leis Naturais reveladas aos homens.
Agora, realmente, o Movimento Espírita tem sido atualmente negativo
para a divulgação do Espiritismo, porquanto, em advertência feita pelo
próprio Chico Xavier, ele vem enveredando pelo caminho do Elitismo, esquecido de suas funções de Consolador Prometido.
Em sentença atribuída a León Denis, um dos continuadores de Kardec, foi dito com clareza: “O Espiritismo será o que dele fizerem os homens”. De minha parte, substituiria a palavra homens pelo termo espíritas.
E, infelizmente, é o que temos visto acontecer, porque o Movimento
centralizou-se, fez com que o Espiritismo, praticamente, saísse da
periferia das cidades, que foi onde ele cresceu – Jesus pregou o
Evangelho no meio do povo, e foi o povo que, durante trezentos anos,
pereceu em seu testemunho.
Temos, igualmente, observado muitos Centros Espíritas, para angariar
adeptos, cedendo a práticas estranhas à Doutrina, misturando, por
exemplo, o passe com o reike, sem mencionarmos o personalismo que vem levando dirigentes espíritas a fazerem um Espiritismo à sua maneira ou à moda de seus “guias”.
O que falarmos de oradores e médiuns que se valem de suas faculdades
procurando apenas e tão somente holofotes, transformando as suas
apresentações em verdadeiras apresentações circenses?!
Os grupos espíritas, com exceções, são quase rivais uns dos outros,
não apoiando as iniciativas doutrinárias que são promovidas para a
comunidade, chegando uns a proibirem, ou, então, a pedirem contas porque
o frequentador de “seu” Centro foi prestigiar o evento organizado pelo
outro Centro.
Ora, sabemos que a Doutrina Espírita, no dizer de Emmanuel, “é processo libertador de consciências”,
e estamos, nos dias que correm, atravessando uma hora de transição, uma
época de consumismo na qual prevalece o imediatismo das pessoas também
no campo espiritual da Vida – as pessoas, em geral, querem ter os seus
problemas equacionados, querem obter a cura de suas mazelas, querem que
os seus negócios materiais prosperem, e por aí afora. Poucos são os
que, realmente, se interessam pelo processo de renovação íntima, que
também, em face do materialismo que impera na sociedade, é um grande
obstáculo, mormente quando os expositores da Doutrina não sabem tratar
dos assuntos cotidianos à luz do Espiritismo.
E o que dizermos do esquecimento, a partir de nossos chamados órgãos
unificadores, da criança e do jovem, que quase não têm espaço nas Casas
Espíritas?! – e dos pais espíritas que sequer cogitam de realizarem o
Culto do Evangelho no Lar?!...
Repetimos o que já dissemos algumas vezes aqui mesmo no espaço deste
Blog: está passando da hora de voltarmos as nossas vistas e a nossa
atenção para a Evangelização Infantil e para a Mocidade Espírita, e
dando menos espaço à mediunidade incipiente de tantos confrades e
confreiras, que, mal tendo começado a exercitar-se, por exemplo, no
campo da psicografia, já querem editar os “seus” trabalhos.
Para não nos estendermos em nosso parecer, voltaremos, quando
oportuno, a dele tratar, esperando que, sem defender o chamado
proselitismo de arrastamento, os espíritas que somos comecemos, com
urgência, nos submetermos a uma autocrítica no que tange ao Movimento,
em vez de gente querendo atualizar a linguagem de Allan Kardec e outros
quejandos, no mínimo, estranhíssimos.
Que falta faz Chico Xavier!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 15 de junho de 2025.