SOBRE O LIVRO “TRANSGÊNERO” –
Entrevista com o Dr. Inácio Ferreira
- Dr. Inácio, por que escreveu o livro “Transgênero”,
recentemente lançado pela Editora LEEPP?
- Porque é um tema atual, ainda pouco estudado na Doutrina,
e, principalmente, por tratar-se de um fenômeno psicológico que vem acontecendo
dos Dois Lados da Vida. Além de espírita, sou um estudioso da psique, e, antes
de escrever “Transgênero”, tivemos oportunidade de escrever uma trilogia sobre
as questões relacionadas ao “ego”: “Egos em Conflito”, “Egos em Paz” e “Alma do
Mundo”.
- Não teme as críticas, por ser o autor de uma obra que, até
certo ponto, aborda tema polêmico?
- Em absoluto. Nada escrevo para obter elogio. Toda opinião
séria me interessa, mas não me deixo afetar pelos críticos de plantão. Desde
que escrevemos “Sob as Cinzas do Tempo”, eles nos elegeram por um de seus alvos
preferenciais. Sou um homem fora do corpo, e, sendo assim, tenho o direito de
me expressar. Os espíritas de pequeno conhecimento acham que todo espírito que
entra em contato com os médiuns na Terra são criaturas angelicais, e não nos
dão, a nós, os desencarnados comuns, o direito de ser o que somos – o espírita
quer “santificar” os seus Mentores.
- Então, o Dr. Inácio Ferreira?...
- Sou um homem desencarnado, um espírito em trânsito,
estudando e aprendendo sempre. Tive, quando encarnado, na condição de médico no
“Sanatório Espírita”, de Uberaba, oportunidade de lidar com os intrincados
temas da sexualidade humana. Aliás, quase todos os nossos internos faceavam problemas
dessa natureza. Creio mesmo que, sobre a Terra, poucos são aqueles que não os
faceiam. Ou estarei enganado?! Pode ser que, neste momento, algum anjo esteja
lendo estas minhas palavras, e, com certeza, já tenha superado os seus
conflitos sexuais – que Deus seja louvado!
- Não obstante, o livro, por tratar de assunto tão delicado,
não deixa, inclusive, de expor o instrumento mediúnico, não acha?!
- Exporia, talvez, um instrumento mediúnico intimidado, mas
não o nosso amigo que conheço de longa data, e que, juntos, já escrevemos cerca
de cinquenta obras. Claro que a maledicência não perde oportunidade alguma para
enlamear aqueles que inveja. Os mais ou menos bons – os Espíritos nô-lo
disseram em “O Livro dos Espíritos” – carecem de ser um pouco mais ousados – o
espírita que não dá cara a tapa não testemunha a fé! Infelizmente, muitos
irmãos e irmãs de Ideal são os que chamamos de “taipeiros” – estimam ficar “em
cima do muro”, por interesses exclusivamente pessoais.
- Percebe-se que tratou o assunto de maneira muito
extrovertida, não?!
- Um pouco, talvez. O tema, por não deixar de ser, digamos,
inabitual, na literatura espírita, carecia de ser abordado com certa leveza e
descontração. Escrever um volume, de quase trezentas páginas, sobre
transgeneridade, sem caçoar um pouco mais do Manoel Roberto, seria tornar o
livro intragável. E, depois, o nosso propósito, foi o de apenas abrir espaço
para que outras opiniões venham à baila. Embora psiquiatra, e continue
estudando na Vida Espiritual, não sou o que se denomina, propriamente, de expert
no assunto. Que outras vozes, mais abalizadas, não se omitam. Kardec,
praticamente, não teve oportunidade de tratar do tema, como não tratou de
outros que se acentuaram, ou surgiram, após a Codificação.
- Crê que a transgeneridade seja mesmo um fenômeno psíquico?
- A nível mundial, e precisar-se-ia ser cego, ou extremamente
preconceituoso, para não admiti-lo. E, repito: fenômeno que se observa dos Dois
Lados da Vida! O espírito carece de vivenciar múltiplas experiências em sua
jornada evolutiva, e, se do ponto de vista biológico, o homem é macho e fêmea,
do ponto de vista psíquico, ele é uma “multidão”. Tal fenômeno não sofrerá
regressão – há de se acentuar cada vez mais, levando a Humanidade a muitas
reflexões, revisão de conceitos, e, sobretudo, preconceitos.
- O livro foi revisado pela Editora?
- Foi, e não me agradou muito, não. Todavia, entendo que, em
maioria, estamos nos dirigindo a mentes ainda um tanto infantilizadas, apegadas
a dogmas e preconceitos, e que se revelam incapazes de compreender simples
brincadeira, feita com o propósito de amenizar o peso da Verdade. A Editora
ficou com receio de que, mais uma vez, eu fosse chamado de “mistificador”, e
até de gay, junto com o médium. Ora, esse risco foi calculado. E, tanto a mim
quanto a ele, não molestou nem um pouco.
- Podemos esperar o “Transgênero 2”?
- Por mim, o 2, o 3... Não sei, contudo, se contaremos com
oportunidade mediúnica para tanto. Eu tinha vontade de efetuar uma visita
àquele padre pedófilo que mora na barranca do Rio Tietê, em São Paulo...
Estudar uma mente em transitório estado de insanidade é um aprendizado e tanto.
Freud que o diga. Neste sentido, infelizmente, quando eu me encontrava
encarnado, os meus estudos foram muito superficiais – sei que fiquei a dever.
Hoje, os tempos são outros, e a minha visão também.
- O senhor acha o espírita moralista?
- Não, com exceções, eu acho o espírita bobo – bobo e
vaidoso. Mas, isso é com cada um, não é?! Cada qual é bobo à sua maneira.
Espírita, meu caro, quando vai para a “mídia”, e “mídia” entre aspas, porque a
mídia espírita praticamente inexiste, costuma ficar encantado com a própria
figura – é Narciso reencarnado! Dias atrás, eu perdi um pouco do meu tempo
ouvindo um orador na carcaça – ele ficava embevecido com o som da própria voz,
provocava pausas requisitando aplausos... Saí no meio da palestra e, para não
fazer o número 2, fui fazer o número 1.
- Deseja acrescentar algo?
- Não. Está de bom tamanho. Apenas desejo cumprimentar o
médium que agora, no último dia 9, completou 67... Somando com os meus 84
terrestres, eu e ele formamos uma dupla de 151 anos, e, portanto, não temos que
dar satisfações a ninguém. Graças a Deus, somos libertos – não temos o rabo
preso! Você não imagina que felicidade seja essa! Agradeço aos amigos e amigas
que nos incentivam e encorajam – gente boa, que não se esconde atrás do
anonimato covarde de gente que não tem cara – acho que não apenas cara! – para
mostrar.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba - MG, 11 de novembro de 2019.