domingo, 25 de outubro de 2020

 

EM CIMA DO MURO

 

Meu caro, eu sei que muita gente silenciou diante de seu testemunho, tornado público, a respeito da adulteração que a FEB vem promovendo nas lavras mediúnicas de Chico Xavier, e, ao que me parece, apenas nas obras de autoria do saudoso Médium.

Não serei um daqueles que, proclamando ser amigo do Chico e da Causa, irei permanecer calado – e, depois, também sou seu amigo e lhe devo solidariedade, a você que, durante tanto tempo, tem revelado ser solidário com o meu pensamento.

Muitos dos que se colocaram “em cima do muro”, que eu costumo chamar de “taipeiros”, assim procederam por interesse pessoal que vai do medo de se expor à crítica ao receio de que algo possam perder no bolso.

Explico-me.

Você sabe que muitos desses nossos irmãos “taipeiros”, desprovidos da coragem que possuem a maioria de nossas irmãs – trata-se de uma coragem histórica, desde os primórdios do Cristianismo, quando a impressão que se tem é que as mulheres que vestiam calças, e não os homens! –, são movidos por inúmeros interesses...

São oradores, vaidosos da tribuna, que ficam com medo de não mais serem convidados para as suas palestras nas casas espíritas “federadas” e/ou Congressos e Simpósios – palestras que, no mínimo, lhes rendem uma hospedagem em hotel de até quatro, cinco estrelas, uma ou duas excelentes refeições e, desculpem-me, uma certa masturbação no ego inchado...

São autores de livros que, de repente, temem que as suas obras possam sofrer uma espécie de censura – o que tem ocorrido com as obras de nossa lavra, no Movimento com cores de democracia manchada de rubro –, e fiquem, assim, encalhados nas Editoras, não lhes dando ensejo de as autografarem, para que se mantenham na ilusão de que são autores de sucesso comparado ao de um J. R. R. Tolkien...

São companheiros que, por vezes, adoram uma viagem ao Exterior, sem que tenham que gastar um real do próprio bolso, e “enriquecerem” os seus currículos doutrinários, com que possam ser anunciados nos grandes Congressos regiamente pagos – encolhem-se com receio de que os convites que lhes chegam para ir à Europa irão minguar, e tenham que se contentar em falar em Veríssimo, ou em Água Comprida...

Por certo, argumentarão que você, em seu depoimento, já repleto de likes no Youtube, foi muito contundente e chegou mesmo a faltar com a caridade, jogando aquilo no ventilador, que espalhou “febrentina” por todos os lados.

Seria interessante que eles, os sofistas da Doutrina, nos respondessem o seguinte: teria Jesus faltado com a caridade, quando, munido de um chicote, expulsou os desavergonhados do templo?! Teria Ele, ainda, faltado com a caridade quando comparou os escribas e os fariseus a sepulcros caiados por fora, cheios de podridão por dentro?! Claro, o Cristo é o Cristo, mas, justamente, por não sermos o Cristo, é que não há nada de surpreendente que venhamos a fazer o que dizem que Ele não teria feito, mas fez!...

A verdade, meu caro, como dizia a minha velha mãe, a verdade verdadeira é que anda faltando caráter a muita gente que se diz espírita.

Muitos irmãos de Ideal querem, ao mesmo tempo, agradar a Deus e ao Demônio – dizem que Deus é Misericordioso e que haverá de perdoá-los pela falta de brio, mas, o Demônio é implacável, e, sendo assim, não convém desagradá-lo completamente – não custa nada, em algum momento, lhe puxar o saco (ops), o garfo de três dentes pontiagudos que lhe podem fazer grande estrago...

Bem, para encerrar, sinceramente, eu não sei com que cara essa gente há de chegar aqui, no Mundo Espiritual, logo mais – de minha parte, eu penso que aqui virão parar com a cara de traseiro, mesmo porque eles parecem que não têm outra com que possam se mostrar deste Outro Lado da Vida.

Convinha que eles, pelo menos, antes de simplesmente deletarem estas nossas palavras, ou, caprichosamente, imprimi-las para que possam ser usadas para tentar limpar o que não ousamos dizer, pensassem no que João registrou em seu enigmático Livro, no capítulo 3, versículos 15 e 16:

“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio, ou quente!

Assim, porque és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca”.

 

INÁCIO FERREIRA

 

Uberaba – MG, 25 de Outubro de 2020.