Chico na Cruz
Como estão equivocados alguns espíritas, nossos irmãos e irmãs de fé, que acham que vão chegar ao Mundo Espiritual de black tie!...
Quando eu penso em Chico Xavier, na maneira em que ele chegou à Vida Maior, deixando na Terra o seu corpo em frangalhos...
Sim, espiritualmente, ele sempre foi, era e continua sendo uma luz, todavia, do ponto de vista físico, Chico foi massacrado, ou melhor, crucificado...
Em seu invisível Calvário, às vezes não tão invisível assim, literalmente, ele foi pregado à cruz – através dos cravos da incompreensão, da calúnia, da inveja, da mentira – ao longo de seus 75 anos de Mandato Mediúnico, a partir de 8 de Julho de 1927, o que não lhe faltaram foram os cravos com que, por vezes, os próprios espíritas, lhe varavam as mãos e os pés, e os golpes de lança da ingratidão ao próprio peito, e a esponja embebida do fel da traição aos lábios...
Creio mesmo que todo cristão, a redimir-se, há de chegar aqui, deste Outro Lado da Vida, com muitas feridas e equimoses, cicatrizes incontáveis em seu corpo espiritual, como se tivessem levado uma tunda homérica na Terra...
E os integrantes da turma pensando que, por simplesmente serem adeptos do Espiritismo, hão de chegar aqui inteiros, luzidios, volitando feito borboletas em um jardim, de flor em flor...
Ah, quanta ilusão!...
Chico, aos 92, tinha o corpo retalhado por várias cirurgias, um olho cego, sem os dentes naturais, pernas paralíticas, surdez avançada, pés inchados, angina pectoris, voz quase inaudível... Um homem que, à semelhança do Mestre que serviu a vida inteira, estava crucificado!...
(“Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; e, como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha, muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca.” –Isaías, 53 -7)
Ao seu redor, nunca faltaram nem mesmo os usurpadores – de seu nome, de seu prestígio, de sua bondade, de sua figura ímpar – usurpadores que, até hoje, se espalham por todo o Brasil, usando e abusando de seu respeitável nome!...
Os Pilatos omissos, lavando as mãos...
Os Judas adulteradores de suas lições...
Sem mencionar muitos cristãos da era pós-Constantino, que na era pós-Chico Xavier começaram a se achar donos do Cristianismo Redivivo, em luta insana por um poder inexistente...
Sinceramente, quando eu penso em Chico Xavier em Pedro Leopoldo, eu não tenho como deixar de recordar-me da manjedoura em uma aldeia chamada Belém, e quando eu penso nele aos 92 de idade, em Uberaba, eu não tenho como deixar de pensar que, no fim de sua abençoada trajetória, ele, por fim, foi alçado à cruz...
Não precisou de um túmulo emprestado, como Jesus necessitou do túmulo de José de Arimateia, mas de um túmulo que lhe foi ofertado por outros poucos amigos!...
E nós, os espíritas, encomendando os nosso black ties, no ledo engano de que, ante os que ainda não desencarnaram, o Céu há de se abrir, como o Mar Vermelho diante de Moisés, para lhes conceder passagem aos Altos Cimos!...
Eu não vou sorrir, porque o caso é de chorar!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 2 de Junho de 2024.