O OUTRO FILHO
O que me intriga
Na Parábola do Filho Pródigo
Não é o filho mais moço,
Que, reclamando
Supostos direitos de herança,
Delibera sair
Da Casa Paterna –
Não é ele, que
Partiu para uma terra distante,
E, de maneira dissoluta,
Tudo consumiu,
Ao ponto de passar fome,
E de invejar os porcos
Que se fartavam de alfarrobas...
O que me intriga
É a atitude do outro filho,
Do primogênito,
Que só tinha um irmão –
A sua atitude
De inveja,
De ciúme,
De sei lá o quê –
Indigno,
Medíocre,
Ambicioso,
Egoísta,
Desejando que
O seu único irmão
Para sempre
Estivesse morto...
Sim, o que me intriga
É ele que alterca
Com o Pai,
Que procurava
Conciliá-lo –
O que deveria ter sido feito
Com uma bela
Palmatória,
Ou com a vara
De um marmeleiro
Existente
No Paraíso –
(Que diacho de Paraíso
É esse que não tem
Um marmeleiro,
Do qual
Um pai
Não possa tirar
Uma vara
Para corrigir um filho!...) –
Ou, ainda,
Com a cinta
Que segurava
As suas Divinas Calças,
Ou que prendia
A sua Túnica Diáfana
E Estrelejada...
Sei não...
Tenho para comigo
Que tropeçando
E caindo,
O filho mais moço,
O pecador,
O devasso,
É candidato a Cristo,
Enquanto que o outro,
O puro,
O imáculo,
O que não erra,
A “anjo decaído”!... –
A Parábola terminou
Por ali,
Mas a história
Certamente
Não!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 19 de Abril de 2020.