COMO VOCÊ
INTERPRETA?! – XXXVI
Realmente, o caso Tobias, inserido no capítulo 38 de “Nosso
Lar”, é um desafio à capacidade de compreensão dos espíritos que não possuem
mais avançada noção de fraternidade na Terra. No capítulo seguinte, de número
39 – “Ouvindo a Senhora Laura” –, a mãezinha de Lísias chega a dizer a André
Luiz: - “Quando nos atemos aos pontos de
vista propriamente humanos, essas coisas dão até para escandalizar.”
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Possivelmente, inclusive, este terá sido um dos pontos mais
contestados da obra, quando “Nosso Lar”, editado pela FEB, foi lançado em 1944,
tratando de um assunto considerado tabu, mesmo numa Doutrina de vanguarda
espiritual quanto o Espiritismo.
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Recordo-me que, quando André Luiz escreveu “Sexo e Destino”,
obra, igualmente, editada pela FEB, cujo prefácio é de 1963, Chico contou-nos
que foi visitado por um dos diretores da “Federação”, em Uberaba. – “Ele nos disse, em tom de repreensão –
contou Chico –, que não sabia em que
lugar de sua casa ele haveria de colocar o livro, visto que possuía filhas
menores... Eu, simplesmente, lhe respondi: - Onde o senhor irá colocar o livro
em sua casa, eu não sei, mas na minha ele ficará em lugar de destaque na
estante...”
Vejamos o que, mesmo no meio espírita, seja o moralismo e o
preconceito. “Sexo e Destino” é obra extraordinária, repleta de elevado
conteúdo moral, abordando o tema da sexualidade, que é assunto humano, com
belíssima prece de Emmanuel no prefácio, que, ao dirigir-se a Jesus, afirma,
recordando o episódio da mulher adúltera: “Jerusalém
agora é o mundo!...”
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André Luiz, depois da visita realizada à casa de Tobias,
procura Dona Laura, porquanto ele próprio se mostrava um tanto alarmado com a
situação doméstica do companheiro em ”Nosso Lar”, acolhendo em sua residência
Hilda e Luciana, que haviam sido, respectivamente, a sua primeira e a sua
segunda esposa na Terra, de vez que, Tobias, por se ter enviuvado muito cedo,
desposara Luciana em segundas núpcias.
Dona Laura, sem rodeios, disse a André: - “Não será fácil para você, presentemente, a penetração, no sentido
elevado, da organização doméstica que visitou ontem...”
E, em seguida, sublinha: -
“O caso Tobias é o caso de vitória da fraternidade real, por parte das três
almas interessadas na aquisição de justo entendimento. Quem não se adaptar à
lei de fraternidade e compreensão, logicamente não atravessará essas
fronteiras.”
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Recordamo-nos, sim, meu amigo, das críticas maldosas dirigidas
ao livro de Paulino Garcia, intitulado “Meu Filho Nasceu no Além”, recebido por
seu intermédio, editado pela LEEPP – Uberaba. Sei que alguém, não escondendo a
sua revolta, ao constatar a questão do casamento no Plano Espiritual – Paulino
unindo-se à Jamile, que se engravidou e teve um filho – e a questão dos casais
homossexuais, bradou a sua revolta: - “Quer
dizer, então, que, no Mundo Espiritual, continua a mesma p...?! A mesma
sem-vergonhice?!...”
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Dias atrás, a visita da filósofa americana Judith Butler ao
Brasil, apenas para a realização de uma conferência, aos gritos de “queimem a
bruxa”, terminou com feroz agressão física a ela, justamente da parte de uma
mulher que se revelou extremamente preconceituosa – em vez de manifestar-se
pacificamente, ela voltou-se contra outra que procurava defender a filósofa,
dizendo: - “Quem é você? Você é feia!
Olha esse cabelo, olha essa sua cor...”
Ah, como somos ainda assim tão pequeninos e miseráveis!...
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Vale a pena que os nossos irmãos internautas releiam com
atenção os capítulos 38 e 39 de “Nosso Lar”, um livro, sobre todos os aspectos,
muito avançado para o seu tempo, e, talvez, passados já mais de 70 anos de sua
concepção mediúnica, uma obra ainda muito avançada para os dias atuais.
Ao fim do diálogo com Dona Laura, André sentencia:
- “Agora não mais me
preocupava a situação de Tobias, nem as atitudes de Hilda e Luciana.
Impressionava-me, sim, a imponente questão da fraternidade humana.”
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 4 de dezembro de 2017