domingo, 13 de agosto de 2023

Homens e Mulheres

“Grãos de Mostarda”

 

“Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo; o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos.” – Mateus, 13:31

 

Meditando sobre a Parábola do Grão de Mostarda, contada por Jesus, nos vem à mente que existem, sim, homens e mulheres que à pequenina semente de mostarda podem ser comparados...

São irmãos e irmãs que vivem quase em completo anonimato, mas que, através do trabalho, vão “germinando” e crescendo, tornando-se maior que todas as hortaliças, terminando por se transfigurarem em árvores humanas, sobre as quais “as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos” – pela espiritualidade alcançada, atraem para os seus “ramos” as “aves do céu”, ou seja, os Espíritos de Luz que passam a inspirá-los.

Uma mulher que, em Uberaba, citaríamos como exemplo de “semente de mostarda”, é a nossa valorosa irmã Aparecida Conceição Ferreira, a Dona Aparecida, do Hospital do Fogo Selvagem, que, atualmente, já se encontra domiciliada entre nós, os desencarnados.

Aparecida era enfermeira da Santa Casa, quando, com os doentes de pênfigo foram expulsos, postos, literalmente, na rua, pelos médicos que, então, dirigiam o referido nosocômio.

Ela era uma mulher muito simples, uma “semente de mostarda” – não sabia ler, não sabia escrever, era pobre e... negra, além, naturalmente, de pertencer ao sexo feminino, o que não deixava, à época, de ser um conjunto de preconceituosas adversidades, posto que, somente, de alguns anos para cá, a mulher vem conquistando o espaço que, por mérito e direito, sempre lhe pertenceu.

Aparecida, assim humilhada, recolheu os penfigosos – que chegavam a ser comparados aos portadores do Mal de Hansen – e os levou para a sua casa, com o número de assistidos por ela crescendo dia a dia.

De todas as partes do Brasil, os doentes do fogo selvagem vinham à procura daquele “anjo negro do Hospital do Pênfigo”, conforme passara a ser chamada por conhecido jornalista da cidade...

A verdade é que aquele aparente frágil grão de mostarda se mostrou extremamente forte: germinou no monturo, cresceu, virou uma hortaliça e se fez robusta árvore, à cuja sombra, inclusive, vinham se amparar os filhos e netos dos penfigosos – Aparecida transformou a sua casa em hospital, fundou uma creche, uma escola, um centro espírita, e se fez grande amiga de Chico Xavier, que, segundo ela, era como se fosse seu pai – Chico, uma outra semente de mostarda que o Céu semeara em gleba mineira, na cidade de Pedro Leopoldo!...

Sim, “as aves do céu” vinham “aninhar-se nos seus ramos”, pousando em seus “galhos” e neles fazendo morada, passando a trinar dia e noite inspirando a verdadeiras multidões que buscavam a sua presença.

*

Ninguém é tão pequeno e insignificante, um grão de mostarda”, que, trabalhando com sinceridade não possa se transmudar em hortaliça e, depois, em árvore vetusta sobre a qual “as aves do céu” venham a se aninhar!...

 

INÁCIO FERREIRA

Uberaba – MG, 13 de Agosto de 2023.