Lições de “Nosso Lar”
Dentre as lições que pude extrair do livro “Nosso Lar”, uma das que mais me chamou atenção, quando encarnado, e, pela vez primeira, efetuei a sua leitura, é que a cidade “Nosso Lar” não era uma cidade espírita.
Não era, e continua não sendo, nem será.
Aliás, cidades, ou países, com essa ou aquela nomenclatura religiosa é “coisa da Terra” – coisa de planeta inferior.
Desde que o mundo é mundo, na essência de todo conflito humano, mais que um motivo de ordem política, ou mesmo econômica, vamos nos deparar com uma causa de natureza religiosa – ou se preferirem, de natureza não ética.
Sócrates foi condenado à cicuta por contrariar os sofistas.
Jesus foi crucificado por não concordar com os escribas e fariseus.
Gandhi libertou a Índia, mas não logrou pacificar hindus e muçulmanos.
Nas diferentes Dimensões Espirituais, mais, ou menos, materializadas, quanto mais inferiores se revelem, pelos que as povoam, mais a vida, em todas as suas expressões, se encontra rotulada – quer dizer: mais as mentes se mostram “regionalizadas”, lutando umas pelo poder sobre as demais.
Na cidade “Nosso Lar”, embora fundada por portugueses desencarnados, habituados, quando na Terra, a colonizar, não há bandeira que se desfralde cujo lema não seja simplesmente o do “amai-vos uns aos outros”.
Diante do que acontece, presentemente, entre os encarnados, pode-se dizer que a Terra, do ponto de vista espiritual, ainda, talvez, sequer seja um orbe de expiações e provas, tal o primitivismo do comportamento humano em assuntos de transcendência.
Vivem-se, na atualidade terrestre, ferrenhos embates religiosos que, do campo da retórica, estão passando, e vão passar ainda mais, para o campo da prática - a questão religiosa engendrando as questões racistas e sociais mais graves, que tendem a mergulhar o mundo em guerra sem precedentes.
Houve-se em grande inspiração León Denis, quando disse: “O Espiritismo não será a religião do futuro, mas, sim, o futuro das religiões”.
O sábio Chico Xavier ensinava: “Eu não creio que nós, os espíritas, venhamos a ser os ‘tais’... Acredito que o Espiritismo caminhará ao lado das demais religiões cristãs, para, um dia, formarmos com elas o Cristianismo Total.”
Espiritismo, em sentido que transcende, não é religião – é “um sistema de vida”, como, igualmente, dizia Chico Xavier – Espiritismo é a Verdade que, gradativamente, viremos a conhecer, mas da qual, evidentemente, ainda nos encontramos muitos distantes.
Por este motivo, o espírito que se responsabilizou, junto a Kardec, pela Codificação, se denominou “O Espírito da Verdade” – “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.
Ser espírita não é ser religioso no sentido literal do termo, mas ser cristão, ou, pelo menos, tentar sê-lo.
Chico, certa vez, em desabafo, falou com veemência: “O Espiritismo é uma doutrina livre, nasceu livre e precisa continuar livre... Se, um dia, ele deixar de ser o que é, eu deixo de ser espírita e vou tentar ser cristão.”
Ser espírita deveria ser o mesmo que ser cristão, mas, pelo que Chico disse, ser cristão parece ser mais do que simplesmente dizer-se espírita.
É uma pena, um grande desserviço à Causa do Espiritismo Cristão, quando se tenta hierarquizá-lo, pessoalizá-lo – é uma pena, dirigentes e médiuns espíritas tão vaidosos e personalistas, que, com o seu personalismo e vaidade, vão distorcendo a Doutrina.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 23 de novembro de 2025.