sábado, 3 de maio de 2025

 

Desperdício

De

Encarnações

 

Observando daqui, do Plano em que nos situamos, a movimentação dos espíritos que, em todo o mundo, descem à Terra, através da reencarnação, lamentamos o “desperdício” da oportunidade que, infelizmente, é quase generalizado, para o aprendizado que lhes seria possível realizar, caso estivessem um pouco mais despertos para as realidades que transcendem a sua existência no estreito ambiente em que passam a respirar.

 

Muitos, milhares, e poderíamos dizer milhões, quando retornam para cá de suas excursões no corpo físico, o fazem quase na mesma condição evolutiva em que se encontravam antes da “magna tentativa”, conforme escreve André Luiz no seu excelente “Nosso Lar”.

 

Poucos são os que, de fato, logram acrescentar algo de concreto ao seu currículo intelecto moral, dando significativo passo adiante nas sendas que todos devemos percorrer em busca de mais luz.

 

A esmagadora maioria vive uma vida que podemos rotular de “comum”, de vez que apenas e tão somente se horizontalizam, esquecidos de se verticalizarem, libertando-se um tanto dos grilhões que lhes são impostos no cenário onde a matéria se nos revela mais densa.

 

Infelizmente, nem mesmo as religiões, que deveriam conscientizá-los no referido tentame, cumprem com o seu papel, e, ao contrário, lhes alimentam expectativas ingênuas em torno da vida além da morte.

 

O Espiritismo, na revivescência do Cristianismo, parece lhes falar com uma linguagem que não se interessam por decifrar, quando, claro, se dispõem a ouvi-la, de vez que, na maioria das vezes, ignoram-na completamente, porque a verdade é que a Doutrina Espírita ainda carece de divulgação mais ampla entre os encarnados, como também entre inúmeros desencarnados de nossa convivência no além-túmulo.

 

O Espiritismo, sendo Fé Raciocinada, desapareceu da Europa e nem mesmo chegou a outros continentes, a não ser através de tímidos grupos que sobrevivem pelo heroísmo dos que os mantêm, não raro, em precário funcionamento.

 

Os espíritos encarnados, em geral, não querem as propostas do Espiritismo, porque este responsabiliza-os diretamente pelo que são e pelo que vierem a ser – preferem, após a sua existência no corpo, ainda sob o efeito do esquecimento do passado, que se prolonga até aqui, e alhures, o Céu, e até mesmo o sono do qual virão a despertar apenas no Dia do Juízo Final – não nos referindo àqueles que chegam a dizer que, ao que o Espiritismo preceitua sobre a evolução do espírito, preferem a tese materialista do “morreu, acabou”.

 

O torpor que toma conta do espírito em seu regresso ao corpo transitório, entretecido de matéria grosseira, é tão pesado que – temos que concordar – somente uma dor superlativa pode fazer com que ele se volte para a sua própria essência.

 

Lamentamos esse “desperdício” de tempo, embora saibamos que toda experiência vivenciada pelo espírito no corpo carnal, de certa maneira, não deixa de ser minimamente produtiva.

 

Realmente, podemos, metaforicamente, considerar o “mergulho” do espírito na carne com o pesado corpo adquirido sendo-lhe quase o “túmulo” em que ele verdadeiramente se encerra, e não a campa que abrigará os seus chamados restos mortais, no engenhoso processo do Criador para que a criatura, gradativamente, através do choque reencarnação-desencarnação-reencarnação, finalmente, venha a acordar, muitas vezes, de sua voluntária letargia.

 

 

 

INÁCIO FERREIRA

 

Uberaba – MG, 3 de maio de 2025.

 

 

 

 

domingo, 27 de abril de 2025

 

Mediunidade e Obsessão

 

Em “O Livro dos Médiuns”, Allan Kardec, sob a inspiração dos Espíritos da Codificação, escreve que médium é todo aquele que sente a influência dos espíritos em um grau qualquer... Não obstante, quando discorre sobre o problema da obsessão, afirma que ela é o império que os espíritos obsessores exercem sobre as suas vítimas...

Note-se que a “linha divisória” que separa um estado do outro – o mediúnico do obsessivo – é muito tênue, e que, sem a indispensável vigilância, alguém pode, com certa facilidade, transitar do estado mediúnico saudável para o estado mediúnico patogênico.

Quando atuava no Sanatório Espírita de Uberaba, na condição de médico psiquiatra, mas, principalmente, de espírita, percebia, com nitidez, e lamentava, que tantos médiuns, que poderiam ser eficientes tarefeiros na Doutrina, estavam entregues à obsessão.

Quantas faculdades de psicofonia vampirizadas por entidades devotadas ao ódio e à vingança, cedendo, com facilidade extrema, passividade aos inimigos de outrora – inimigos daqueles pobres pacientes que, nesta situação por longo tempo, tangenciavam a loucura, recebendo, de colegas outros, o diagnóstico de “esquizofrenia”.

Poucos foram daqueles pacientes que, libertados de seus algozes invisíveis, não permaneceram com sequelas, ou que, uma vez “curados”, não quiseram se comprometer com a mediunidade – constrangidos na obsessão, de livre e espontânea vontade nada queriam com a mediunidade.

Refiro-me ao assunto, en passant, porque, na atualidade, registramos muitos medianeiros que, tendo começado bem em suas atividades mediúnicas, depois, sem a necessária vigilância, extrapolam eles próprios, facilitando o assédio dos espíritos que terminam por lhes adoecer as faculdades.

Necessária, pois, se faz muita cautela da parte de todos os que laboram no campo mediúnico, de vez que, como pontificou Kardec, a obsessão é uma irmã desviada da mediunidade – ambas têm os mesmos genitores, ou seja, a sensibilidade psíquica, possuindo assim a mesma genética, inclusive física, todavia, segundo antigo ditado que eu ouvia de minha mãe, “os dedos das mãos não são iguais”...

Profundamente lamentável observar, em nossa gleba de atividades doutrinárias, tantos médiuns sanos tornando-se insanos, simplesmente por conta de vaidade e personalismo!...

Estendendo os conceitos do Codificador, de vez que, sim, SOMOS TODOS MÉDIUNS, segundo o título de valiosa obra mediúnica escrita do Mais Além por Odilon Fernandes, todos os espíritas somos passíveis de padecer o estado obsessivo, quer no exercício ostensivo ou discreto de nossas faculdades.

Outra vez: cuidemos da vigilância!...

 

INÁCIO FERREIRA

 

Uberaba – MG, 27 de abril de 2025.