Desperdício
De
Encarnações
Observando daqui, do Plano em que nos situamos, a movimentação dos espíritos que, em todo o mundo, descem à Terra, através da reencarnação, lamentamos o “desperdício” da oportunidade que, infelizmente, é quase generalizado, para o aprendizado que lhes seria possível realizar, caso estivessem um pouco mais despertos para as realidades que transcendem a sua existência no estreito ambiente em que passam a respirar.
Muitos, milhares, e poderíamos dizer milhões, quando retornam para cá de suas excursões no corpo físico, o fazem quase na mesma condição evolutiva em que se encontravam antes da “magna tentativa”, conforme escreve André Luiz no seu excelente “Nosso Lar”.
Poucos são os que, de fato, logram acrescentar algo de concreto ao seu currículo intelecto moral, dando significativo passo adiante nas sendas que todos devemos percorrer em busca de mais luz.
A esmagadora maioria vive uma vida que podemos rotular de “comum”, de vez que apenas e tão somente se horizontalizam, esquecidos de se verticalizarem, libertando-se um tanto dos grilhões que lhes são impostos no cenário onde a matéria se nos revela mais densa.
Infelizmente, nem mesmo as religiões, que deveriam conscientizá-los no referido tentame, cumprem com o seu papel, e, ao contrário, lhes alimentam expectativas ingênuas em torno da vida além da morte.
O Espiritismo, na revivescência do Cristianismo, parece lhes falar com uma linguagem que não se interessam por decifrar, quando, claro, se dispõem a ouvi-la, de vez que, na maioria das vezes, ignoram-na completamente, porque a verdade é que a Doutrina Espírita ainda carece de divulgação mais ampla entre os encarnados, como também entre inúmeros desencarnados de nossa convivência no além-túmulo.
O Espiritismo, sendo Fé Raciocinada, desapareceu da Europa e nem mesmo chegou a outros continentes, a não ser através de tímidos grupos que sobrevivem pelo heroísmo dos que os mantêm, não raro, em precário funcionamento.
Os espíritos encarnados, em geral, não querem as propostas do Espiritismo, porque este responsabiliza-os diretamente pelo que são e pelo que vierem a ser – preferem, após a sua existência no corpo, ainda sob o efeito do esquecimento do passado, que se prolonga até aqui, e alhures, o Céu, e até mesmo o sono do qual virão a despertar apenas no Dia do Juízo Final – não nos referindo àqueles que chegam a dizer que, ao que o Espiritismo preceitua sobre a evolução do espírito, preferem a tese materialista do “morreu, acabou”.
O torpor que toma conta do espírito em seu regresso ao corpo transitório, entretecido de matéria grosseira, é tão pesado que – temos que concordar – somente uma dor superlativa pode fazer com que ele se volte para a sua própria essência.
Lamentamos esse “desperdício” de tempo, embora saibamos que toda experiência vivenciada pelo espírito no corpo carnal, de certa maneira, não deixa de ser minimamente produtiva.
Realmente, podemos, metaforicamente, considerar o “mergulho” do espírito na carne com o pesado corpo adquirido sendo-lhe quase o “túmulo” em que ele verdadeiramente se encerra, e não a campa que abrigará os seus chamados restos mortais, no engenhoso processo do Criador para que a criatura, gradativamente, através do choque reencarnação-desencarnação-reencarnação, finalmente, venha a acordar, muitas vezes, de sua voluntária letargia.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 3 de maio de 2025.