COMO VOCÊ
INTERPRETA?! – XXII
No capítulo 30, de “Nosso Lar”, André Luiz traz à baila o
palpitante assunto “Herança e Eutanásia”, contando sobre a situação familiar de
uma jovem que, do Outro Lado, prestava assistência ao seu pai, vítima da
eutanásia, aplicada a ele pelo seu próprio filho médico.
O pai agonizava no leito, quando o filho, de nome Edelberto,
administra-lhe a chamada “morte suave”, interessado que estava, rapidamente, em
receber a herança do genitor.
O fato nos faz recordar da resposta que os Espíritos
Superiores transmitiram a Kardec, na questão de número 808-a, de “O Livro dos
Espíritos”: - A riqueza hereditária,
entretanto, não é fruto das más paixões? R – Que sabes disso? Remonta à origem e verás se é sempre pura. Sabes se no
princípio ela não foi o fruto de uma espoliação ou de uma injustiça? Mas sem
falar em origem que pode ser má, crês que a cobiça de bens, mesmo os melhores
adquiridos, e os desejos secretos que se concebem de os possuir o mais cedo
possível, sejam sentimentos louváveis? Isso é o que Deus julga, e te asseguro
que o seu julgamento é mais severo que o dos homens.”
Sabemos de caso recente, acontecido a uma amiga nossa, em
cidade do interior do Estado de São Paulo, que, aos noventa de idade, um pouco
mais, foi pressionada psicologicamente por alguns de seus familiares,
interessados em sua morte rápida, para que se apropriarem do que lhe pertencia
– ela não foi envenenada como no caso descrito por André Luiz, mas,
cotidianamente, recebia sucessivos abalos emocionais, provocados pelos
familiares referidos, até que veio a sucumbir.
Em “Nosso Lar”, a filha, chamada Paulina, se desdobrava junto
ao pai para que ele esquecesse o episódio e procurasse perdoar o filho
criminoso, libertando-se daquela situação que criara uma obsessão em grupo. – “Perdoe Edelberto, papai! – apelava
ela. – Procure sentir nele, não o filho
leviano, mas o irmão necessitado de esclarecimento. Estive em nossa casa, ainda
hoje, lá observando extremas perturbações. Daqui desse leito, o senhor envolve
todos os nossos em fluidos de amargura e incompreensão, e eles lhe fazem o
mesmo por idêntico modo. O pensamento, em vibrações sutis, alcança o alvo, por
mais distante que esteja. A permuta de ódio e desentendimento causa ruína e
sofrimento nas almas. Mamãe recolheu-se, faz alguns dias, ao hospício, ralada
de angústia. Amália e Cacilda, entraram em luta judicial com Edelberto e
Agenor, em virtude dos grandes patrimônios materiais que o senhor ajuntou nas
esferas da carne.”
Quantos casos semelhantes espalhados no mundo?! Famílias
inteiras em desagregação pela ambição desmedida!...
Notemos que, mesmo do leito hospitalar, ao qual se encontrava
recolhido, certamente por méritos pessoais não mencionados, o genitor, envolto
em sentimento de ódio, afetava a família na Terra.
Comentando o assunto com André Luiz, Narcisa esclarece: “Os casos de herança, em regra, são
extremamente complicados. Com raras exceções, acarretam enorme peso a legadores
e legatários. Neste caso, porém, vemos não só isso, mas também a eutanásia. A
ambição do dinheiro criou, em toda a família de Paulina, esquisitices e
desavenças. Pais avarentos possuem filhos esbanjadores. Fui a casa de nossa
amiga, quando o irmão, o Edelberto, médico de aparência distinta, empregou, no
genitor quase moribundo, a chamada ‘morte suave’. Esforçamo-nos por o evitar,
mas foi tudo em vão. O pobre rapaz desejava, de fato, apressar o desenlace, por
questões de ordem financeira, e aí temos agora a imprevidência e o resultado –
o ódio e a moléstia.”
E arremata:
“Deus criou seres e
céus, mas nós costumamos transformar-nos em espíritos diabólicos, criando
nossos infernos individuais.”
Vejamos, ainda, a preocupação de Narcisa em dizer a André
que, pelo Mundo Espiritual, tudo havia sido feito para demover o filho infeliz
de seu intento de assassinar o próprio pai. Sempre, sim, na condição de
desencarnados, procuramos interceder em favor de nossos irmãos ainda na carne,
no entanto, na maioria das vezes, eles nos fazem “ouvidos de mercador”, e,
então, em respeito ao seu livre arbítrio, nada mais nos compete fazer.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 28 de agosto de 2017