domingo, 11 de outubro de 2020

 

“Carpe Diem”

 

Sinceramente, eu não sei onde a grande multidão, que não cogita do espírito, encontra estímulo para viver na Terra, ocupando-se tão somente do cotidiano terrestre.

Vejo os seus integrantes, que são nossos irmãos em Cristo, caminhando pelas ruas, correndo atrás de objetivos transitórios, para a obtenção do pão de cada dia, e para além do pão que lhes garanta a sobrevivência no corpo.

Milhares, ou, talvez, milhões, movimentam-se na esperança de que possam vir a ter grande êxito financeiro, conquistando posições no convencionalismo social, que festeja os que passam a fazer parte da lista dos considerados ricos – milionários, bilionários, trilhardários...

A maior parte, porém, pressentindo que não logrará frequentar as páginas da “Forbes” – pode ser de alguma “Forbes” tupiniquim –, contentar-se-á com recheada conta bancária, com algumas propriedades, com automóvel que possa trocar por outro zero, ou quase zero, de três em três, ou de quatro em quatro, ou de cinco em cinco anos...

Quase todos, no entanto, contentam-se em se levantar, pela manhã, ocupar o tempo durante as doze horas do dia, chegar em casa e largar-se numa poltrona à frente da TV e... ter um pouco de prazer oriundo da carne.

Repito, sinceramente, eu não sei os que move na vida diária, porquanto, infelizmente, cada vez mais, essa grande multidão parece se afastar dos assuntos da fé em Deus.

Os templos religiosos, de maneira geral, estão vazios, e, lamentavelmente, estamos assistindo, entre os homens encarnados, o fracasso das “peças” da religião, que, por ação de um “efeito-dominó”, estão quase caindo uma após a outra, pelos variados escândalos que a mídia tem se encarregado de divulgar – e por falar em mídia, como ela também vem concorrendo para que o homem viva como se, em pouco tempo, estivesse destinado ao pó! A mídia nada, absolutamente nada, tem feito pela construção espiritual do homem – a mídia é tão consumista que termina por consumir, inclusive, o seu próprio consumidor!

Eu não sei... Vejo-os, aos homens encarnados, caminhando, em grande parte, feito zumbis pelas ruas das pequenas e das grandes cidades, quase que colidindo uns com os outros, sem que parem para trocar dois dedos de prosa, ou... para fumar um cigarrinho juntos – não de Cannabis, é claro, mas das folhas de uma ingênua árvore-do-fumo, porém, não menos prejudicial à saúde – eu que o diga!

Dentro de seus carros ou pilotando as suas motos, de maneira feroz, dirigem os seus veículos mal suportando quem lhes está à frente, tentando obedecer a placa de sinalização que recomenda não se exceda, dentro da cidade, a 40 km/h – de celular na mão, falando com alguém que, por certo, também pode estar no trânsito, os distintos habilitados ultrapassam o “velho” que dirige com lentidão, dedicando-lhe o tradicional dedo médio erguido em gesto pornográfico...

Depois de muito pensar e pensar, aqui, deste Outro Lado, chego à conclusão que é pela Misericórdia Divina que os homens, em esmagadora maioria, estão vivendo na Terra, sem que sequer, muitas e muitas vezes, lembrem de proferir, ainda que decorada, uma única oração por dia.

Sim, é pela Misericórdia Divina que eles, os indiferentes ao seu futuro espiritual, respiram e expiram no mundo, vivendo como se a finalidade da existência humana não fosse outra se não aquela extraída de uma das odes de Horácio: Carpe Diem.

 

Não fosse pela ação da Misericórdia Divina que os sustenta de pé, através do Instinto de Conservação, com certeza, assistiríamos na Terra à pavorosa catástrofe de ordem moral, com os homens em autoextermínio coletivo, por não conseguirem enxergar na vida medíocre que escolhem viver um propósito de ordem superior.

Não posso, contudo, deixar de registrar as exceções que, infelizmente, de tão poucas, quantitativamente, não alteram as estatísticas, embora, qualitativamente, sejam elas que continuam a manter as esperanças de que o mundo venha a ser melhor amanhã.

 

INÁCIO FERREIRA

 

Uberaba – MG, 11 de Outubro de 2020.