domingo, 18 de abril de 2021

 

A Obra Literária de Chico Xavier

(Em Homenagem ao 18 de Abril)

 

Alguns amigos nos solicitam, ainda que rapidamente, uma análise literária da Obra Mediúnica de Chico Xavier. Por não sermos experts no assunto, não poderemos fazê-lo, de vez que, segundo cremos, ele cabe aos especialistas.

Contudo, podemos dizer que a Obra Mediúnica de Chico Xavier, desde a sua primeira publicação, “Parnaso de Além Túmulo”, vem sendo analisada literariamente, causando surpresa aos estudiosos isentos pela sua autenticidade.

Chico Xavier psicografou em todos os gêneros literários: épico, lírico e dramático – por seu intermédio, desde 1927, os Autores Espirituais escreveram romances, novelas, contos, crônicas, poemas, canções...

Chico, ainda, produziu notável literatura infanto-juvenil, através, por exemplo, das obras intituladas: “Os Filhos do Grande Rei”, “Mensagem do Pequeno Morto”, “História da Maricota”, “Jardim da Infância”, “Cartilha do Bem”, “Pai Nosso”, etc.

Habitualmente, os grandes escritores, os mais premiados, revelam inata tendência para gênero específico de literatura, mais consoante com a sua capacidade intelectual e preferência. Na condição de médium, porém, Chico serviu de instrumento para diversos espíritos que, por ele, se manifestavam com a sua especialização literária: os poetas do “Parnaso”, os cronistas de “Vozes do Grande Além”, com destaque para Humberto de Campos, em “Crônicas de Além-Túmulo”, então considerado o maior cronista brasileiro, e ocupante da cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras...

Emmanuel, que, em um de suas múltiplas encarnações, foi o Padre Manoel da Nóbrega, considerado o Primeiro Escritor do Brasil, dedicou-se, através do versátil médium, a escrever épicos históricos, em Português castiço, impecável – as suas Obras Literárias, essencialmente Doutrinárias, aliás, como todas as demais, versam sobre o Cristianismo Nascente. Em “Paulo e Estêvão”, por exemplo, tendo como inspiração a vida de Paulo de Tarso, o denominado Apóstolo dos Gentios, nos deparamos com a História do Cristianismo em seus primeiros tempos. Emmanuel, no livro “Renúncia”, ainda nos traz vestígios do trabalho que, ao longo dos séculos, os espíritos, e, dentre eles, Alcíone e Padre Damiano, efetuaram em favor do Cristianismo, na Europa e na América, nos preparativos espirituais para que a Terceira Revelação se concretizasse, a partir da publicação de “O Livro dos Espíritos”, em Paris, na França, a 18 de Abril de 1857.

O trabalho de André Luiz, pseudônimo do Dr. Carlos Chagas, do ponto de vista literário e doutrinário, pode ser considerado inovador, porque se servindo de resumidas narrativas, o festejado Autor Espiritual de “Nosso Lar”, dá sequência à revelação em torno da vida dos espíritos além da morte – as obras de André Luiz, dentro da Literatura, podem, sem dúvida, ser classificadas como dramáticas, porque versam sobre as realidades do espírito na Vida Maior – de “Nosso Lar” a “E a Vida Continua...”. Desse mesmo autor que, quando encarnado, foi um cientista de mérito, podemos colocar em destaque o excelente “Evolução em Dois Mundos”, publicação de natureza científica que impressiona pela sua originalidade, a que nenhuma outra obra de autor encarnado ou desencarnado pode se comparar.

Interessante frisar que toda a Obra Literária de Chico Xavier, hoje com mais de 500 livros publicados, além de ter sido gramaticalmente vasada de maneira exímia, desdobra o chamado “Pentateuco Kardeciano”, ou amplia a Codificação, aprofundando-se no estudo de seus Princípios Básicos: Reencarnação, Mundo Espiritual, Lei de Causa e Efeito, Intervenção dos Espíritos no Mundo Corpóreo, Pluralidade dos Mundos Habitados, etc. Portanto, do ponto de vista doutrinário, e não apenas literário, a Obra Mediúnica de Chico Xavier, pode ser considerada irretocável, sem a menor contradição com a ciclópica Obra de Allan Kardec, concebida em meados do século XIX.

Não obstante, os espíritos que pelo médium se expressaram durante 75 anos consecutivos – Chico psicografou a sua primeira página do Mundo Espiritual em 8 de Julho de 1927 –, continuariam dando mostras de sua identidade e estilo, quando, a partir da década de 70, os comunicados, ao se transformarem em depoimentos pessoais, trouxeram à escrita mediúnica os habitantes comuns da Pátria Espiritual, que, através do médium, intensificaram os seus contatos, em verdadeiras legiões, e com cada um deles escrevendo à sua maneira, inclusive, por vezes, valendo-se de gírias – grande parte desses espíritos, ao término de suas cartas, lograva assiná-las com a própria letra, além de mencionar detalhes de sua experiência reencarnatória tão somente conhecidos da família. Podemos, pois, dizer que, com Chico, esse novo gênero literário, as “Cartas Familiares”, inauguraram uma nova fase no intercâmbio entre encarnados e desencarnados.

Dentro de todos as espécies literárias que Chico psicografou, a diversidade de estilos é tão grande que, sem dúvida, o assunto carece de ser estudado por especialistas, de vez que, por si só, comprova a imortalidade da alma e a possibilidade dos vivos do Além entrar em contato com os vivos da Terra.

Através de Chico Xavier, portanto, a Literatura de Além Túmulo passou a integrar o vasto campo da Literatura, que não mais se restringe a autores encarnados.

Em 1932, quando “Parnaso de Além Túmulo” foi publicado pela Federação Espírita Brasileira, com o seu médium contando apenas 22 de idade, vários críticos se manifestaram a respeito da obra que passou a ocupar as páginas dos principais periódicos da época. E, para encerrar este pequeno arrazoado, escrito com o intuito de relembrar o 18 de Abril – Dia do Livro Espírita –, transcrevemos abaixo o que o célebre Humberto de Campos, que também escrevia sob o pseudônimo de “Conselheiro XX”, teve coragem de dizer sobre o “Parnaso”:

“Eu faltaria ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pela pena do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocupavam nesta vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos – sente-se, ao ler cada um dos autores que veio do outro mundo para cantar neste instante, a inclinação do Sr. Francisco Cândido Xavier para escrever à la manière de... ou para traduzir o que aqueles altos espíritos sopraram ao seu.”

 

INÁCIO FERREIRA

 

Uberaba – MG, 18 de Abril de 2021