A Obra Literária de
Chico Xavier
(Em Homenagem ao 18 de Abril)
Alguns amigos nos solicitam, ainda que rapidamente, uma
análise literária da Obra Mediúnica de Chico Xavier. Por não sermos experts no
assunto, não poderemos fazê-lo, de vez que, segundo cremos, ele cabe aos
especialistas.
Contudo, podemos dizer que a Obra Mediúnica de Chico Xavier,
desde a sua primeira publicação, “Parnaso de Além Túmulo”, vem sendo analisada
literariamente, causando surpresa aos estudiosos isentos pela sua
autenticidade.
Chico Xavier psicografou em todos os gêneros literários:
épico, lírico e dramático – por seu intermédio, desde 1927, os Autores
Espirituais escreveram romances, novelas, contos, crônicas, poemas, canções...
Chico, ainda, produziu notável literatura infanto-juvenil,
através, por exemplo, das obras intituladas: “Os Filhos do Grande Rei”,
“Mensagem do Pequeno Morto”, “História da Maricota”, “Jardim da Infância”,
“Cartilha do Bem”, “Pai Nosso”, etc.
Habitualmente, os grandes escritores, os mais premiados, revelam
inata tendência para gênero específico de literatura, mais consoante com a sua
capacidade intelectual e preferência. Na condição de médium, porém, Chico
serviu de instrumento para diversos espíritos que, por ele, se manifestavam com
a sua especialização literária: os poetas do “Parnaso”, os cronistas de “Vozes
do Grande Além”, com destaque para Humberto de Campos, em “Crônicas de
Além-Túmulo”, então considerado o maior cronista brasileiro, e ocupante da
cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras...
Emmanuel, que, em um de suas múltiplas encarnações, foi o
Padre Manoel da Nóbrega, considerado o Primeiro Escritor do Brasil, dedicou-se,
através do versátil médium, a escrever épicos históricos, em Português castiço,
impecável – as suas Obras Literárias, essencialmente Doutrinárias, aliás, como
todas as demais, versam sobre o Cristianismo Nascente. Em “Paulo e Estêvão”,
por exemplo, tendo como inspiração a vida de Paulo de Tarso, o denominado
Apóstolo dos Gentios, nos deparamos com a História do Cristianismo em seus
primeiros tempos. Emmanuel, no livro “Renúncia”, ainda nos traz vestígios do
trabalho que, ao longo dos séculos, os espíritos, e, dentre eles, Alcíone e
Padre Damiano, efetuaram em favor do Cristianismo, na Europa e na América, nos
preparativos espirituais para que a Terceira Revelação se concretizasse, a
partir da publicação de “O Livro dos Espíritos”, em Paris, na França, a 18 de
Abril de 1857.
O trabalho de André Luiz, pseudônimo do Dr. Carlos Chagas, do
ponto de vista literário e doutrinário, pode ser considerado inovador, porque
se servindo de resumidas narrativas, o festejado Autor Espiritual de “Nosso
Lar”, dá sequência à revelação em torno da vida dos espíritos além da morte – as
obras de André Luiz, dentro da Literatura, podem, sem dúvida, ser classificadas
como dramáticas, porque versam sobre as realidades do espírito na Vida Maior –
de “Nosso Lar” a “E a Vida Continua...”. Desse mesmo autor que, quando
encarnado, foi um cientista de mérito, podemos colocar em destaque o excelente
“Evolução em Dois Mundos”, publicação de natureza científica que impressiona
pela sua originalidade, a que nenhuma outra obra de autor encarnado ou
desencarnado pode se comparar.
Interessante frisar que toda a Obra Literária de Chico
Xavier, hoje com mais de 500 livros publicados, além de ter sido
gramaticalmente vasada de maneira exímia, desdobra o chamado “Pentateuco
Kardeciano”, ou amplia a Codificação, aprofundando-se no estudo de seus
Princípios Básicos: Reencarnação, Mundo Espiritual, Lei de Causa e Efeito,
Intervenção dos Espíritos no Mundo Corpóreo, Pluralidade dos Mundos Habitados,
etc. Portanto, do ponto de vista doutrinário, e não apenas literário, a Obra
Mediúnica de Chico Xavier, pode ser considerada irretocável, sem a menor
contradição com a ciclópica Obra de Allan Kardec, concebida em meados do século
XIX.
Não obstante, os espíritos que pelo médium se expressaram
durante 75 anos consecutivos – Chico psicografou a sua primeira página do Mundo
Espiritual em 8 de Julho de 1927 –, continuariam dando mostras de sua
identidade e estilo, quando, a partir da década de 70, os comunicados, ao se
transformarem em depoimentos pessoais, trouxeram à escrita mediúnica os
habitantes comuns da Pátria Espiritual, que, através do médium, intensificaram
os seus contatos, em verdadeiras legiões, e com cada um deles escrevendo à sua
maneira, inclusive, por vezes, valendo-se de gírias – grande parte desses
espíritos, ao término de suas cartas, lograva assiná-las com a própria letra,
além de mencionar detalhes de sua experiência reencarnatória tão somente
conhecidos da família. Podemos, pois, dizer que, com Chico, esse novo gênero
literário, as “Cartas Familiares”, inauguraram uma nova fase no intercâmbio
entre encarnados e desencarnados.
Dentro de todos as espécies literárias que Chico psicografou,
a diversidade de estilos é tão grande que, sem dúvida, o assunto carece de ser
estudado por especialistas, de vez que, por si só, comprova a imortalidade da
alma e a possibilidade dos vivos do Além entrar em contato com os vivos da
Terra.
Através de Chico Xavier, portanto, a Literatura de Além
Túmulo passou a integrar o vasto campo da Literatura, que não mais se restringe
a autores encarnados.
Em 1932, quando “Parnaso de Além Túmulo” foi publicado pela
Federação Espírita Brasileira, com o seu médium contando apenas 22 de idade,
vários críticos se manifestaram a respeito da obra que passou a ocupar as
páginas dos principais periódicos da época. E, para encerrar este pequeno
arrazoado, escrito com o intuito de relembrar o 18 de Abril – Dia do Livro
Espírita –, transcrevemos abaixo o que o célebre Humberto de Campos, que também
escrevia sob o pseudônimo de “Conselheiro XX”, teve coragem de dizer sobre o
“Parnaso”:
“Eu faltaria ao dever
que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pela
pena do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete
apresentam as mesmas características de inspiração e expressão que os
identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocupavam nesta
vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta
musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves,
sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e
profundo em Augusto dos Anjos – sente-se, ao ler cada um dos autores que veio
do outro mundo para cantar neste instante, a inclinação do Sr. Francisco
Cândido Xavier para escrever à la manière de... ou
para traduzir o que aqueles altos espíritos sopraram ao seu.”
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 18 de Abril de 2021