MAR E PRAIA
Qual a água do mar toca a praia, e a encharca, assim é o
Mundo Espiritual próximo, em relação à Terra.
Notemos que os banhistas, muitos deles, em seus trajes
menores, à feição dos desencarnados, permanecem num estado de transição –
continuam tão humanos que, quando logram se retirar da praia, deixam-na quase
completamente repleta de lixo.
A praia, por assim dizer, é o “Umbral”, a Dimensão
intermediária entre a cidade e o oceano – entre a Terra e o Mundo Espiritual
livre.
Raros são os banhistas que, por saberem nadar, se aventuram
mar adentro, distanciando-se da praia.
A esmagadora maioria, quando se vê fora do corpo, com receio
do Infinito, não ousa mais que molhar os pés – depois de breve bronzeado,
deliberam voltar à cidade e retomar a segurança de quem pisa em chão já
conhecido.
Dando as costas para o Infinito, ou seja, para o Mundo
Espiritual de natureza mais transcendente, opta pelo regresso à vida comum –
toma um banho quente em casa e procura se livrar de toda e qualquer lembrança
da areia das praias do litoral.
Não obstante, o oceano, ou seja, o Mundo Espiritual, em suas
águas mais rasas ou mais profundas, permanece na expectativa de quem seja capaz
de desbravá-lo.
Até o presente momento, poucos são os banhistas que, exímios
nadadores, arriscam-se a ir um pouco mais longe, e, depois, retornam procurando
encorajar os mais temerosos a não se contentarem com apenas molhar os pés, ou dormir
sob as sombrinhas postadas na areia da praia.
Realmente, para que alguém se aventure mar adentro é preciso
que tenha aprendido a nadar, e mergulhar, assimilando, inclusive, a técnica da
flutuação.
Alguns têm tanto receio do mar que preferem, embora em trajes
de banho, permanecer num dos bancos da calçada, à sombra de uma palmeira,
repetindo de maneira inconsciente: - Eu
quero a minha mãe!...
E é justamente esse desejo, o de querer a mãe, que faz muitos
banhistas retornarem mais depressa às suas casas, entrarem num pijama e dormir
ao barulho da maré...
Contudo, o mar permanecerá onde sempre esteve – desafiador. E
quem não vencer o medo do Infinito nada conseguirá, por muito e muito tempo,
mais que pisar na areia da praia e permitir que a água do oceano lhe toque os
pés.
A praia é o “Umbral” dos espíritos que deixam o corpo –
praia, diga-se de passagem, repleta da presença humana dos banhistas que não se
preocupam com o meio ambiente.
O Espiritismo é excelente “escola de natação”, para que os
futuros banhistas percam o medo das águas do oceano e comecem a bracejar na
direção do Infinito.
Mas, por hora, o receio de afogamento vem predominando na
maioria dos banhistas, que, como eu, literalmente, nunca puderam realmente
aprender a nadar sequer numa piscina – eu tinha medo de afogar até debaixo do
chuveiro, ou, quando era mais menino, até na bacia d’água em que minha mãe me
colocava para que eu pudesse me livrar da poeira cotidiana de minhas
traquinagens.
Todavia, é verdade que tem banhista na cidade que sequer
nunca foi à praia – eu penso que deve ter medo de ser puxado pelas ondas do
mar...
Por este motivo, meu caro, se você quiser, o Espiritismo
também pode ser, para você e para muita gente, um “Manual de Natação”, que,
talvez, quando você for à praia, consiga encorajá-lo a entrar no mar da Vida
Mais Alta com a água lhe dando, pelo menos, à cintura.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 13 de Dezembro de 2020.