domingo, 5 de julho de 2020


ANEDOTA ESPÍRITA CAMPEÃ

Vocês me desculpem o sorriso defunto.
Creio, no entanto, que os “mortos” também têm direito à piada – a fazer piada e a sorrir de alguma, quando de fato, ela seja inteligente.
Eu sempre gostei de uma anedota – quando encarnado, confesso, até das mais temperadas.
Se os santos têm direito a sorrir, quanto mais os pecadores, vocês não acham?! – ou serão daqueles que, sempre em cima do muro, não acham e nem desacham nada?!
Nunca, no entanto, sorri da desventura alheia.
Ao contrário, muitas vezes, chorei por conta dela – chorava sozinho, tímido, no meu canto, envergonhado de mostrar as minhas próprias lágrimas.
Ainda hoje, quando os espíritas encarnados me permitem as glândulas lacrimais, eu choro – desde que Jesus chorou por Lázaro, o irmão de Marta e Maria, o humano choro se divinizou em seus olhos!
Todavia, claro, prefiro sorrir – não por deboche! Jamais! Acontece que certas coisas, de fato, desenterram o meu bom humor.
Ultimamente, por exemplo, eu tenho dado boas gargalhadas, iguais, ao que me recordo, apenas quando a minha mãe nos levava, a mim e a minha irmã, a um espetáculo circense.
Ah, eu adorava os palhaços, que surgiam no picadeiro dando cambalhotas – mais até que os trapezistas, que, pelo medo de vê-los cair, tapando os olhos com as mãos, eu escondia o rosto no aconchegante colo de minha mãe.
Quando, mais tarde, eu me tornei espírita, por obra e graça de Modesta, e da Infinita Misericórdia do Senhor, pensei que o “sorriso espírita” fosse proibido...
À exceção dos espíritos obsessores, nenhum outro comparecia às nossas sessões mediúnicas no Sanatório dando risadas pela cara dos médiuns.
Um dia, perguntei a Modesta: - O espírita pode sorrir?! Ela me respondeu com um sorriso e, então, conclui por mim mesmo que, afinal, sorrir não era um comportamento imoral.
Odilon Fernandes, sem ser brincalhão, era um espírita alegre – ele e tantos outros que tive oportunidade de conhecer, que sempre estiveram, e estão, à frente de meus passos na caminhada.
Até onde sei, Chico adorava uma boa história hilariante – e sou testemunha de que, quando não policiado pelos “patrulheiros ideológicos”, ele também costumava contá-la... Certa vez, pedindo socorro ao Dr. Bezerra de Menezes, para o seu olho esquerdo que doía e sangrava, ele disse ao Dr. Bezerra que estava lhe pedindo auxílio não como se fosse gente, mas, sim, um animal... Ao que o inesquecível Benfeitor respondeu: - Chico, se você está me pedindo auxílio como um animal, quem você pensa que eu sou? – Ah, Dr. Bezerra – respondeu o médium –, o senhor é um veterinário de Deus!... Chico completou dizendo que o sorriso do Dr. Bezerra ecoou em toda a sua Dimensão Espiritual e... nas mais próximas!...
Mas, vamos a anedota que, nos tempos últimos, vem me arrancando boas gargalhadas – mais que engraçada, ela é engraçadíssima, quase surreal.
Não se decepcionem vocês, porque eu nunca fui um Cantinflas, nem um Chico Anysio – quem me dera possuir a verve de qualquer um desses dois, quando, em cena, valiam por um espetáculo inteiro.
Tenho certeza, no entanto, de que os internautas bem humorados, os que não vivem de mal com a vida, e, certamente, na sua atual encarnação, não estão se candidatando a uma auréola, haverão de sorrir muito comigo...
Aqui segue a anedota espírita campeã, que, para mim, merece erguer a taça no teatro de lona em que os seus contadores estão se exibindo, na expectativa do aplauso da galera:
- Eu acho engraçadíssimo os espíritas que acham que têm o poder de censurar a liberdade de expressão alheia, inclusive dos mortos, e lhes apor qualquer espécie de mordaça na boca – mordaça que nem a morte conseguiu lhes apor!...

INÁCIO FERREIRA

Uberaba – MG, 5 de Julho de 2020.