“MANCHA” – O GATO
Eu tive um
gato –
Diferente
dos demais,
Dos de casa
e do Sanatório...
Um gato
arisco,
Desconfiado,
Olhar
esquivo...
Os outros,
não –
Vinham para
o meu colo,
Passeavam
sobre a mesa do escritório,
Esfregavam
em mim
O seu rabo –
Queriam
carinho,
Olhar meigo
–
Ronronavam
e...
Fumavam
comigo
Os meus
cigarros de papel,
Ou de
palha...
O outro,
descendente, talvez,
De um
chacal,
Ou de um
cachorro-do-mato,
Era um gato
que me preocupava...
De quando a
quando,
Em minhas
loucuras,
Eu falava
com ele:
- “Mancha”
– era o seu nome –,
Que tipo de
gente
Você há de
ser, quando crescer –
Quando você
“virar” gente!...
Ele ficava
me olhando,
Não sei se
com vontade
De saltar
sobre o meu pescoço,
Pegando-me
pela jugular...
Nunca se
misturava com os outros,
Batia nas
gatinhas
Das quais
abusava – violentando-as...
Tinha atum
à sua disposição,
Mas
preferia dilacerar as rolinhas
E as pombas,
E os
pintainhos, do quintal da vizinha...
“Mancha”
era o único
Que
defecava dentro de casa –
De
propósito, creio!...
Com toda a
minha parca Psiquiatria,
Eu não
conseguia
Desvendar o
seu psiquismo...
Um dia,
contei para o Chico –
Para o
Chico Xavier – sobre o “Mancha”...
Ele
ouviu-me e respondeu,
Franzindo a
testa:
-
Ah, Doutor, tudo começa aí,
Lá
atrás!...
A verdade é
que eu nunca
Consegui
cativar o “Mancha” –
Ganhar a
confiança dele...
Sinceramente,
eu penso
Que existem
espíritos assim –
Irmãos do
“Mancha” –
Irmão
siameses...
Não querem
abdicar do instinto
Pela
razão...
Trocam de
corpo,
Mas não
mudam a alma...
Questão de
escolha, de preferência?!
Não sei...
Nunca mais
vi o “Mancha”,
Depois que
ele, primeiro, e eu, depois,
Batemos as
botas...
No entanto,
quando me deparo,
Na Terra,
Com alguém
estranho,
Muito
estranho,
Olhar
esquivo,
Exigente,
Violento,
Quase mau,
Parecendo
ter
Uma raiva
crônica do Criador,
- Eu sei
que não houve tempo
Hábil para
tanto! –
Eu penso
assim:
- Meu Deus,
esse homem
Talvez seja
a reencarnação do “Mancha”!...
INÁCIO
FERREIRA
Uberaba –
MG, 17 de Agosto de 2020.