COMO VOCÊ
INTERPRETA?! – XLIX
Ao comunicar a André Luiz o propósito de reencarnar, a sua
mãe, justificando o sacrifício, lhe diz:
- Não consideras a
angustiosa condição de teu pai, meu filho? Há muitos anos trabalho para
reerguê-lo e meus esforços têm sido improfícuos. Laerte é hoje um céptico de
coração envenenado. Não poderia persistir em semelhante posição, sob pena de
mergulhar em abismos mais fundos. Que fazer, André? Terias coragem de revê-lo
em tal situação, esquivando-te ao socorro justo?”
Notemos que muitos espíritos, a fim de começarem a empreender
a sua mudança íntima, espíritos que se unem ao nosso grupo familiar, pedem
muito tempo de trabalho a todos os que por eles se interessam, e, não raro,
esse trabalho costuma ser improfícuo, impondo, então, a necessidade de maior
esforço e renúncia dos que se sentem no dever de auxiliá-lo.
A consciência de quem sobe não permite que os que ficaram
para trás sejam simplesmente esquecidos, largados à própria sorte.
Felizmente é assim, pois, caso contrário, espíritos
retardatários que somos haveríamos de “mergulhar
em abismos mais fundos”, dos quais não sabemos dizer como e nem quando
haveríamos de nos resgatar.
*
A mãezinha de André ainda lhe diz que o seu pai seria
constrangido à reencarnação imediata... Certamente que Laerte não desejava
voltar ao corpo carnal – algo dementado que se encontrava, não estava em
condições de escolher o melhor para sim. Foi neste sentido que André formulou a
indagação:
- Mas isso é possível?
E a liberdade individual?
A sua mãe respondeu:
- Há reencarnações que
funcionam como drásticos. Ainda que o doente não se sinta corajoso, existem
amigos que o ajudam a sorver o remédio santo, embora muito amargo.
Relativamente à liberdade irrestrita, a alma pode invocar esse direito somente
quando compreenda o dever e o pratique. Quando ao mais, é indispensável
reconhecer que o devedor é escravo do compromisso assumido. (...)
A resposta obtida por André nos leva a pensar nos defensores
dos direitos humanos para todas as criaturas, inclusive para aqueles que, pelos
crimes praticados, se tornam grandes devedores da coletividade. Qualquer
infrator da lei, quando não se dispõe, conscientemente, ao reajuste, deve ser
constrangido a ele, pois, se assim não acontecer, o mal haverá de se perpetuar
em seu espírito.
O livre arbítrio é relativo, e não absoluto, a não ser,
claro, para os espíritos que se redimiram.
*
Em seu sacrifício de amor, a mãezinha de André lhe comunica
que, além de consorciar-se, outra vez, com o seu pai, Laerte, receberia, na
condição de filhas, duas mulheres que ele havia deliberadamente enganado.
Ao espanto que André demonstra, a genitora esclarece:
- (...) Ninguém ajuda
eficientemente, intensificando as forças contrárias, como não se pode apagar na
Terra um incêndio com petróleo. É indispensável amar, André! Os que descreem
perdem o rumo verdadeiro, peregrinando pelo deserto; os que erram se desviam da
estrada real, mergulhando no pântano.
Quem, talvez, já estando encarnado, não se encontra dentro
das lutas afetivas que esboçou para si mesmo no Mundo Espiritual, antes de novo
mergulho na carne?! Quem, com certeza, não estaria fugindo ao compromisso,
desprezando corações, que, antes reencarnar, prometera trabalhar para
redimir?!...
*
É de se notar que a genitora de André, quando na Terra,
sequer conhecera o Espiritismo, não constituindo diferencial para o espírito
qualquer rotulagem de natureza religiosa que ele venha a ostentar, esteja
encarnado ou desencarnado. O que verdadeiramente conta é a riqueza moral que o
espírito estesoura em sua capacidade de amar.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 19 de março de 2018.