COMO VOCÊ
INTERPRETA?! – X
Prosseguindo com as nossas reflexões, em forma de perguntas,
sobre o livro “Nosso Lar”, no capítulo 22 – “O Bônus-Hora” –, nos deparamos com
minuciosa elucidação de Laura a André Luiz em torno da remuneração ao trabalho
no Mundo Espiritual. Vejamos que, além da morte, o trabalho, por alguma espécie
de ganho, o ainda carece de “incentivo” nos espíritos – a ambição, sem dúvida,
é uma das paixões (pergunta 907, de “O Livro dos Espíritos”) que mais
impulsiona o homem ao progresso, embora, por outro lado, também seja uma das
que mais o compromete perante a Lei de Causa e Efeito.
A certa altura de sua preleção, Laura esclarece: “Todo o ganho externo no mundo é lucro
transitório.” Notemos o conceito extraordinário que, caso norteasse os
encarnados, impediria que, dominados pela ambição desmedida, eles viessem a
cometer tantos equívocos, nos quais, a fim de se redimirem, terminam por gastar
séculos.
“O verdadeiro ganho da
criatura é de natureza espiritual e o bônus-hora, em nossa organização,
modifica-se em valor substancial, segundo a natureza dos nossos serviços.” – pontifica a lúcida personagem da
obra em estudo.
Apenas com as duas considerações acima, concluímos que, de
fato, quando o dinheiro deixar de ser o que, na atualidade, ele representa para
a Humanidade, automaticamente, serão eliminadas certas mazelas que engendra:
egoísmo, corrupção, poder, injustiça, apego, etc. Então, uma palavra muito em
voga nos tempos modernos – propina – perderá toda a sua força de ação.
Em “Nosso Lar”, que não podemos considerar além de uma cidade
espiritual de mediana evolução – ela localiza-se na Dimensão Umbralina – o
idealismo, em suas primeiras letras, começa a ser aprendido pelos espíritos,
sobrepondo-se ao sentimento de posse.
Laura, um pouco mais adiante, no mesmo capítulo, considera: “Compreendemos, aqui, que nada existe sem
preço e que para receber é indispensável dar alguma coisa.”
“... nada existe sem
preço...”, porém o
dinheiro, como valor aquisitivo, em sua qualquer forma de expressão, é próprio
dos mundos inferiores. Ele exerce tal fascínio sobre os espíritos que
Râmakrishna evitava sequer tocá-lo, e, igualmente, não se tem notícia de que
Jesus Cristo o tenha tocado – a moeda do imposto devida a César é examinada na mão
de quem a apresentou a Ele.
Interpelada por André Luiz a respeito do problema da herança
em “Nosso Lar” – sim, que fosse motivada pelos bens móveis (“bônus-hora”) e
imóveis (propriedades em geral) –, Laura respondeu: “Tenho comigo três mil Bônus-Hora-Auxílio (ela era servidora do
Ministério do Auxílio) no meu quadro de
economia pessoal. Não posso legá-los a minha filha que está a chegar, porque esses
valores serão revertidos ao patrimônio comum, permanecendo minha família apenas
com o direito de herança ao lar; no entanto, minha ficha de serviço autoriza-me
a interceder por ela e preparar-lhe aqui trabalho e concurso amigo (destaquei), assegurando-me, igualmente, o valioso
auxílio das organizações de nossa colônia espiritual, durante minha permanência
nos círculos carnais.”
Como o “dinheiro” de Laura seria revertido ao patrimônio
comum?! Vocês já imaginaram se, na Terra, os pais não pudessem transferir os
seus ganhos materiais para os filhos?! Seria maravilhoso, não?! Fazer reverter
ao patrimônio comum, em forma de benefícios para a coletividade, os valores
acumulados?! Inclusive, tal medida viria a ter enorme e benéfica influência na
educação dos espíritos. Em certos países, alguns milionários já estão legando,
em testamento, a sua grande fortuna a pesquisas de natureza científica ou a
Fundações que trabalham pelo bem social da Humanidade – enquanto muitos estão
tirando do patrimônio comum, como, infelizmente, no caso do Brasil, alguns
raros estão começando a lhes destinar as suas economias.
Ao que nos parece, no entanto, as medidas econômicas que
vigem em “Nosso Lar”, foram estabelecidas através de regras, ou de leis, que,
com certeza, foram propostas e aceitas pelos moradores da cidade, desde a sua
fundação no século XVI. Observemos que Laura, ao se referir à sua possível
herança, disse: “Não posso legá-los à minha filha...”
Quem aceitaria viver numa cidade, ou num país, em que as
regras fossem tais?!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 29 de maio de 2017.