COMO VOCÊ
INTERPRETA?! – XXXV
Na sequência do diálogo com André, no capítulo 38, Tobias
escuta dele o seguinte argumento, que, aliás, é o argumento de muitos que não
concordam com a união esponsalícia dos espíritos além da morte do corpo carnal.
- Muitas vezes já
lembrei, com interesse, a passagem evangélica em que o Mestre nos promete a
vida dos anjos, quando se referiu ao casamento na eternidade.
Ao que Tobias, responde:
- Forçoso é reconhecer,
todavia, com toda a nossa veneração ao Senhor (...), que ainda não nos achamos
na esfera dos anjos e, sim, dos homens desencarnados.
Infelizmente, devido à forte sugestão mental recebida ao
longo dos séculos, prevalece entre muitos adeptos do Espiritismo a ideia de que
o Mundo Espiritual é extremamente sui
generis, nada tendo a ver com o Mundo Material, quando já se sabe que nas
Esferas próximas ao orbe terrestre a humanidade dos espíritos continua.
*
Apenas a título de reflexão sobre tema tão transcendente,
remetemos os nossos irmãos e irmãs internautas à questão 695, de “O Livro dos
Espíritos”: - O casamento, ou seja, a
união permanente de dois seres, é contrária à lei natural? Resposta: - É um progresso na marcha da Humanidade.
Notemos que fica subentendido que a união matrimonial, ou
seja, a união permanente entre dois
seres, através do casamento, (aqui não há qualquer referência à sexualidade) “é um progresso na marcha da Humanidade”,
que, evidentemente, continuará marchando...
Adiante, na pergunta 697, apenas também a título de
ilustração, os Espíritos Superiores afirmam que a indissolubilidade absoluta do
casamento é uma lei humana, “muito
contrária à lei natural”.
Tobias, em seu diálogo com André Luiz, esclarece que “o verdadeiro casamento é de almas e essa
união ninguém poderá quebrantar” – e nem haverá necessidade de formalizar.
*
Aproveitamos para comentar que, neste aspecto, muitos têm
cogitado de qual seria a “alma gêmea” de Jesus Cristo. Sinceramente,
consideramos tal especulação inteiramente despropositada. Aliás, tudo o que se
refere à evolução do Cristo, em termos de nossas especulações humanas, de
encarnados e desencarnados, é infantilidade. Inútil perda de tempo, discussões
em torno, por exemplo, da “alma gêmea do Cristo”, da natureza de seu corpo, e
mesmo a respeito de onde Ele teria estado dos 12 aos 30 de idade! Cremos que
tais discussões apenas e tão somente nos fazem desviar o foco de nossas
atenções, que deve se concentrar sobre a excelência de suas Palavras. Batráquios,
ou, menos que isto, vermes, não podem compreender a natureza do Sol! Minhocas
têm é que continuar comendo terra e produzindo húmus...
*
Bem, para não nos estendermos, diremos: Tobias, em “Nosso
Lar”, residia, na mesma casa, com Hilda, a esposa, e Luciana, a companheira
que, quando Hilda desencarnou, tomara o seu lugar, auxiliando Tobias a criar os
dois filhos menores.
Hilda, explica a André, que, na condição de desencarnada,
vitimada por excessivo ciúme, ou sentimento de posse, começou a perseguir
Luciana. Foi quando, recebendo a visita da avó materna, registrou as suas
sábias palavras, ditas com brandura e energia:
- Que é isso, minha
neta? Que papel é o seu na vida? Você é leoa ou alma consciente de Deus? Pois
nossa irmã Luciana serve de mãe a seus filhos, funciona como criada de sua
casa, é jardineira do seu jardim, suporta a bílis do seu marido e não pode
assumir o lugar provisório de companheira de lutas, ao lado dele? É assim que o
seu coração agradece os benefícios divinos e remunera aqueles que o servem?
Quer você uma escrava e despreza uma irmã?”
Ao término da conversa em torno de assunto tão complexo,
Hilda, percebendo o pensamento de André Luiz, arremata:
- Fique tranquilo.
Luciana está em pleno noivado espiritual. Seu nobre companheiro de muitas
etapas terrenas precedeu-a há alguns anos, regressando ao círculo carnal. No
ano próximo, ela seguirá igualmente ao seu encontro. Creio que o momento feliz
será em São Paulo.
*
Maravilhosa lição, mas que poderão compreender apenas aqueles
que já se libertaram um tanto do sentimento de posse e logram uma visão mais
profunda do amor em sua essência.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 27 de novembro de 2017.