“Quer dizer, o espírito que está encarnado em mim?!...”
Sim, meu caro, a pergunta que foi feita a você, quando você
procurava falar da Reencarnação a uma amiga, sua colega de banco universitário,
demonstra a orfandade espiritual que a Humanidade foi relegada pelas religiões
tradicionais...
Embora a sua condição de universitária, vinculada, por laços
familiares, à religião católica, ela, depois de todas as suas explicações, não
foi capaz de compreender que o espírito a que você se referia era ela própria
-
... ela própria, encarnada em um corpo transitório, constituído
de matéria grosseira, com o qual, infelizmente, se confundia, e, talvez, tenha
continuado a se confundir, como acontece com tantos milhares, ou milhões de
irmãos e irmãs, no mundo todo!...
Com certeza, ela não estava fazendo qualquer referência à obsessão,
ou mesmo ao fenômeno mediúnico da chamada incorporação, porque o tema sobre o
qual vocês estavam discorrendo era o da Reencarnação, ou seja, da volta do
espírito a um novo corpo, especialmente formado para ser por ele ocupado...
A estranha dicotomia intelectual da jovem, às avessas, era semelhante a
de Narciso, o jovem da mitologia grega, que estimava contemplar a sua bela
imagem refletida nas límpidas águas de um poço... Conta-se que, certa vez,
alguém perguntou às águas do poço se, de fato, Narciso era belo... Então, as
águas simplesmente responderam que não saberiam dizer, porque, se Narciso
procurava apenas contemplar a sua própria imagem, elas também somente miravam a
si mesmas nas pupilas do referido personagem..
Parece, não é?!, que, tendo somente olhos para nós mesmos,
não conseguimos transcender a imagem que de nós se reflete no espelho, em que,
desde que nascemos, habituamos a nos espiar...
Não logramos, com facilidade, nos descobrir, em nossa própria
essência, além de nossos contornos e enchimentos de carne e osso!...
Creio que, infelizmente, ainda haveremos de levar um bom
tempo para tomarmos consciência de que o espírito que jaz encarnado em nós
somos nós, e que o corpo carnal é apenas um aglomerado atômico de que nos
valemos para nos tornarmos tangíveis quando mergulhamos nas Dimensões de
matéria mais densa.
O assunto é tão sério, e tão grave, que, inclusive, há irmãos
nossos que acreditam que, um dia, no chamado Juízo Final, eles haverão de
ressurgir, ou ressuscitar, inteiramente, célula a célula, e, então, com o mesmo
corpo de antanho, quais Lázaros em ressurreição ainda mais prodigiosa, para
herdarem a Terra.
A confusão, ou indigência, é tão grande, que vou continuar me
esforçando para não perder a consciência de que o espírito encarnado no Inácio
é o próprio Inácio, e não o... Manoel Roberto!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 21 de Outubro de 2023.