COMO VOCÊ INTERPRETA?! – XXVIII
No capítulo 34 – “Com os Recém-Chegados do Umbral” –, André
efetua notáveis considerações, a respeito dos espíritos que, desencarnados a
mais ou menos tempo – alguns em condições de profunda demência –, foram
resgatados pelos “Samaritanos” e encaminhados aos pavilhões das “Câmaras de
Retificação”.
Interessante o diálogo que ele entabula com uma senhora, que
auxilia a descer de um dos carros da missão socorrista, que – pasmem! –
acreditava ter sido resgatada do Purgatório. Vejam os nossos irmãos internautas
o poder de sugestão da mente sobre a vida do espírito! Durante séculos e
séculos, “fazendo a cabeça” de seus seguidores, a Igreja Católica fez com que
se lhes cristalizasse na mente a ideia de Céu, Inferno e Purgatório – é como se
fosse uma hipnose de longo curso, da qual, muito lentamente, os espíritos
haverão de despertar.
*
Entrando em conversa com a referida senhora, André descobre
que ela havia sido “dona” de muitos escravos, que fizera sofrer, tendo a
consciência “aliviada” pelas periódicas confissões que realizava com um padre
que lhe visitava a fazenda – o padre Amâncio –, em troca de hospedagem, mesa
farta e polpudas doações para a Igreja.
No diálogo que, em síntese, o autor espiritual reproduz, ela
estava convicta de que a raça negra era inferior: - “Escravo é escravo – dizia. –
Se assim não fora a religião nos ensinaria o contrário. Pois havia cativos em
casa de bispos, quanto mais em nossas fazendas? Quem haveria de plantar a
terra, senão eles? E creia que sempre lhes concedi minhas senzalas como
verdadeira honra!...”
Quem saberá dizer de quanto tempo um espírito assim
necessitará a fim de modificar as suas concepções raciais?! Quanto carma, de
fato, a Humanidade ainda tem a resgatar com os integrantes da raça negra, e
outros irmãos nossos, como, por exemplo, os índios?! Às vezes, eu me ponho a
pensar que o peso do carma que, coletivamente, paira sobre a Humanidade, caso
desabasse de repente, a esmagaria! Poucos, talvez, escapassem desse “terremoto”
generalizado! Não fosse a intercessão da Misericórdia Divina, junto à Divina
Justiça, advogando a causa dos homens, a raça humana desapareceria, porque, em
sua história, há carma suficiente para tanto!...
*
Quando pergunta à antiga senhora de escravos – que tinha
consciência de sua “morte” – imaginava ter sido sequestrada ao Purgatório! –,
quando é que ela havia deixado a Terra, surpreso, ouve a resposta: - “Em Maio de 1888.”!...
Ora, André Luiz informa que as experiências colhidas para
escrever o livro “Nosso Lar”, foram vivenciadas por ele em 1938, às vésperas de
estourar a Segunda Grande Guerra (1939-1945) – portanto, a senhora que com ele
dialogava havia desencarnado, simplesmente, há 50 anos! – sim, ela havia
deixado o corpo há meio século, sem a menor noção de que tanto tempo houvera
passado.
Observem, os nossos internautas, que, em determinadas
circunstâncias, o espírito “perde” completamente a consciência de espaço e
tempo – mormente quando o remorso faz com que ele “estacione” no exato ponto em
que adquiriu a culpa. Provavelmente, não fosse a missão socorrista, empreendida
pelos “Samaritanos”, a situação espiritual daquela infeliz irmã ter-se-ia
prolongado por maior número de lustros. Espíritos existem que, com ou sem
consciência de seu desenlace do corpo, permanecem, nas proximidades da Crosta
por séculos! Eis, portanto, algo que todos os espíritos deveriam temer em sua
desencarnação – mesmo na condição de espíritas, deveriam e devem temer: a
ausência de lucidez em relação a si e, consequentemente, de sua nova condição
existencial!...
*
Informamos ainda que a mencionada senhora – veja-se que
coisa! – desencarnou em consequência da Lei Áurea, promulgada pela Princesa
Isabel, em 13 de maio de 1888! O abalo emocional que experimentou foi tamanho –
sabendo que todos os “seus” escravos não mais lhe pertenciam –, que ela teve
uma apoplexia!...
Incrível, não!...
Quanta miséria em nós! Quanta sombra ainda por alijar do
próprio espírito!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba, 9 de outubro de 2017. (*)
(*) Aniversário do Auto-de-Fé de Barcelona, Espanha, ocorrido
em 9 de outubro de 1861.