domingo, 17 de dezembro de 2023

Desencarnação e Mudança

 

Muitos acham que a desencarnação possa promover, no espírito carente de aperfeiçoar-se, súbita mudança na personalidade – principalmente, claro, naqueles que têm oportunidade de constatar os equívocos que, porventura, tenham cometido na Terra.

Enganam-se.

Alguns poucos, de fato, adquirindo certo nível de conscientização com o seu desenlace do corpo grosseiro, são levados a efetuar mais sérias reflexões em torno da necessidade de mudança comportamental, incluindo mudança de valores, de hábitos, e até mesmo de ideias.

Não obstante, as mudanças substanciais, de natureza íntima, não acontecem simplesmente porque o espírito tenha se transferido de Plano existencial.

Com esmagadora maioria da população terrestre o que acontece, no fenômeno da desencarnação, talvez, não seja nem mesmo mudança extrema de endereço, já que ela continua residindo quase em justaposição, ou sobreposição, ou ainda, muitas vezes, em “subposição” ao endereço em que reside.

Raros são os homens que, em deixando a Crosta, sabem ou passam a saber que se transferiram de domicílio, e que, verificando que a morte não existe, necessitam rever os conceitos em que, secularmente, vêm fundamentando a existência...

E mais raros, por exemplo, os que se revelam dispostos em abrir mão de pontos de vista em que se cristalizam no atendimento a interesses de ordem particularista.

Deste Outro Lado, muitas das objeções que os encarnados fazem à respeito da Vida além da morte, são feitas também pelos desencarnados que não admitem a morte como sendo “desencarnação”, e prosseguem negando a possibilidade de, um dia, regressarem ao corpo grosseiro, de ascenderem a outras Dimensões, ou ainda negando que possam ser chamados a habitar uma das múltiplas moradas da Casa do Pai na imensidão sem fim do Universo.

O assunto é complexo e, no campo ético, a questão matemática de que dois mais dois são quatro não pode ser aplicada.

Assim é que muitos e muitos, infelizmente, em desencarnando, não logram desencarnar o pensamento, partindo-se do pressuposto de que ele, literalmente, carece de submeter-se ao fenômeno liberatório.

Alguns espiritistas, nossos confrades, ainda não alcançaram a concepção de que o desenlace do corpo não é mais que o desenlace do corpo, e que o despertar do espírito, onde quer que ele esteja, é processo lento que envolve esforço, sofrimento, vontade, maturação...

A semente no ato da germinação, que pode, grosseiramente, ser comparado ao desenlace, apenas perde a casca que a envolve para que, por fim, possa crescer, inundar-se de luz e dizer ao que veio.

Por sobre a Terra, ao lado de nossos irmãos encarnados, perambula uma verdadeira multidão dos “sem corpo”, inconscientemente ansiando por um novo berço – o que, para eles, acontecerá de maneira mecânica, por mera ação da Lei do Renascimento.

E, em não acontecendo, com o tempo, dando sequência ao fenômeno migratório que já vem ocorrendo no orbe planetário, esses integrantes da multidão dos “sem corpo” serão compelidos, ou tangidos, com naturalidade, a buscarem para si outras plagas onde se sintam aclimatados.

 

INÁCIO FERREIRA

 

Uberaba – MG, 17 de Dezembro de 2023. (*)

(*) ESTE BLOG VOLTARÁ COM AS SUAS PUBLICAÇÕES NA SEGUNDA QUINZENA DO PRÓXIMO MÊS DE JANEIRO.

 

 

 

 

  

 

domingo, 10 de dezembro de 2023

Eles Não Sabem Fazer Sopa

 

De quando em vez, despontam no Movimento Espírita, os defensores do Espiritismo sem religião, afirmando, com base em suas convicções teológicas que o Espiritismo é apenas e tão somente Ciência e Filosofia.

Evidentemente, cabe-nos respeitar toda e qualquer opinião desse ou daquele, embora saibamos que, habitualmente, os teóricos do Movimento não sabem fazer sopa...

Não, não sabem – a única coisa que sabem é polemizar em torno de determinados temas doutrinários, praticamente gastando a encarnação agradando uns aos outros, a ver se, pelo menos, conseguem um cargozinho no Movimento de Unificação.

Eles não sabem fazer sopa, ralar chuchus e cenouras, porque, talvez, tenham receio de tomar gosto pela coisa e, de repente, virarem sopeiros de algum Centro Espírita na periferia.

Haveriam de lhes custar caro tamanha renúncia porque parariam de andar de avião, de se hospedarem em hotéis elegantes e de refestelarem em restaurantes chiques... Ah, não mais ouviriam de uma plateia, os aplausos pelas piadas de mal gosto que sempre contam, chegando mesmo a utilizar como moto certas personagens veneráveis de nosso pobre Movimento.

Eles não sabem fazer sopa, nem com o auxílio do contraindicado caldo Knorr, e têm medo que o calor do fogo nos panelões lhes modifique a maneira de pensar, e aí adeus os tapinhas nas costas e a troca de elogios baratos com que costumam intoxicar os espíritos.

Eles não sabem fazer sopa, porque Chico Xavier já fez muita sopa para eles e, então, eles se julgam dispensados de aprender a receita com o Grande Medianeiro.

Dizem que o serviço da sopa é destinado aos preguiçosos e vagabundos, porque, desde muito estão precisando trocar os óculos, de vez que não conseguem enxergar as mães gestantes que precisam de melhor alimentação, as crianças subnutridas que, não raro, pedem repeteco da sopa de fubá com alguns poucos legumes, mas enriquecidos pelos fluidos espirituais dos anônimos chefs do Mais Além.

Coitados!... Por não saberem fazer sopa, sinceramente, eu não sei o que irão fazer no Mundo Espiritual, porque as suas provocações teóricas não encontrarão eco entre os Espíritos Amigos, que, por ainda terem muita sopa a fazer, não terão tempo para escutá-los.

Ninguém me pediu isto, e eu não sou tão atrevido ao ponto de estar dando conselhos a alguém, mas, dias atrás, um senhor, que conhece “O Livro dos Espíritos” de cor, veio me perguntar o que ele deveria fazer para desfrutar de melhor situação após a sua desencarnação que se avizinhava... Eu perguntei a ele se, porventura, ele sabia fazer sopa.  Respondeu-me: - Nunca fiz sopa na vida... – Então, meu amigo, aprenda o mais rápido que você puder, procure um Centro Espírita, desses que fazem sopa, e candidate-se... No começo, é provável que você venha a sentir muito calor e adquirir alguns calos nas mãos ou... certo problema na coluna, mas garanto que quando você deixar a carcaça o seu currículo espírita estará imensamente enriquecido, porque lá estará escrito em letras garrafais: ESTE SABE FAZER SOPA!...

Então, quando aparece para mim, alguém morto como eu me encontro, um espectro, ou um que acredite que esteja vivo na Terra, e começa com muita conversa fiada, querendo saber sobre o sexo dos Anjos, faço-lhe a pergunta: - Você sabe fazer sopa?!... Se a pessoa responde que não, eu vou saindo de fininho, porque, afinal, eu não vou perder tempo com espírita que não sabe nem fazer uma sopa!...

 

INÁCIO FERREIRA

 

Uberaba – MG, 10 de Dezembro de 2023.

 

 

 

 

domingo, 3 de dezembro de 2023

Eu Vou Lhes Dizer

 

Nem sempre o espírito, ao reencarnar, possui a necessária lucidez, ou mérito, para escolher o novo corpo a ser habitado.

Para a maioria, o que funciona é a Lei de Causa e Efeito.

Todavia, não raro, o espírito, com necessidade premente de reencarnar – por n motivos –, reencarna no corpo que, para tanto, lhe oferece a possibilidade.

Assim, pode ser que o espírito com psiquismo acentuadamente feminino reencarne em corpo masculino, e vice-versa.

Sabemos que, não sendo assexuado, o espírito é portador de todas as condições sexuais existentes.

A sexualidade, ou força erótica, está presente em tudo o que é criado – até mesmo, semelhante atração, pode ser encontrada nos átomos.

Portanto, não há aberração se, por exemplo, em corpo feminino o espírito revela tendências masculinas, e vice-versa.

Tudo é elemento de aprendizado.

O que, muitas vezes, se reputa como sendo manifestação de “carma”, nada mais é do que consequência da imperfeição do ser.

Um homossexual pode, sem dúvida, ser espírito muito mais evoluído do que outro considerado hétero.

O espírito encarnado que, porventura, se sente em corpo “invertido”, tem todo o direito de se valer da Ciência para adaptá-lo às tendências mais íntimas.

A questão da degradação moral é problema de outra natureza, de vez que atinge os espíritos em todas as condições sexuais.

Aliás, existem perversões mais graves do que as que se restringem à questão sexual.

A sexualidade, em verdade, tem importância relativa, porque somente o amor tem importância absoluta.

Na Humanidade, o amor da criatura por si mesma, denominado “egocentrismo”, ou egoísmo, é o seu maior mal – o mal de que se origina os demais males que acometem a sociedade.

A Lei da Evolução não consulta os espíritos sobre as suas hipocrisias.

Dentro de pouco tempo, conforme já anunciado, crianças nascerão em laboratório, livres, inclusive, do ventre materno.

Assim, haverá, ao reencarnar, maior independência psicológica do espírito, que, durante a gestação, não deixa de sofrer com os impactos que recebe – estamos nos referindo aos impactos de natureza negativa, de vez que, felizmente, também os temos positivos.

As tendências sexuais mais íntimas do espírito encarnado podem se manifestar de acordo com a influência do meio, ou mesmo com o passar do tempo na encarnação, face aos problemas afetivos que venha a enfrentar.

Eis, em síntese, o que desejava lhes dizer, ficando, é claro, ainda muito mais a ser dito.

Moralistas – os falsos – não devem sequer colocar os olhos sobre este post.

A sua opinião não nos interessa, e será, de imediato, direcionada à lata de lixo.

Nada haverá de deter o progresso da Ciência, e a verdade é que, nos Mundos Superiores, todas as possibilidades sexuais do espírito se exteriorizam em sua capacidade de amar.

Deus não é somente Homem, e tampouco apenas Mulher.

Deus é Tudo e um pouco mais, ao infinito.

 

INÁCIO FERREIRA

 

Uberaba – MG, 3 de Dezembro de 2023.