Respondendo
Filho, Jesus nos abençoe.
Você me escreve – e quer a minha opinião – dizendo que acredita, sim, na vida além da morte, mas que imagina que o espírito, sobrevivendo ao seu desenlace, apenas fica à espera de uma nova existência que pode ser completamente diferente de tudo o que já se disse a respeito...
Você fala que acredita que o espírito, simplesmente, entrará em um novo corpo e escreverá uma nova história, segundo as circunstâncias com que o meio o venha favorecer – que poderá, indiferentemente, reencarnar em corpo masculino, ou feminino, sem que tenha o destino previamente traçado a fim de ser isso ou aquilo, de vez que, segundo você, uma existência não necessariamente se continua a outra, em termos de tarefa, profissão ou o que o valha – renascerá como uma semente germina no chão e que tanto poderá a se transformar em árvore ou não, em uma floresta ou em um pomar – ou em um arbusto, um pé de relva...
Ainda segundo você, reencarnando, o espírito poderá se encaminhar para ser um humanista ou criminoso, de vez que dentro de si traz todas essas “possibilidades” – poderá ser um bom criminalista ou um malfeitor, um homem caridoso, como Vicente de Paulo, ou um ditador sanguinário como Mao Tsé-Tung...
Antes de lhe responder, eu diria que você, com os seus questionamentos, “me apertou, sem me abraçar”, porque, se não posso concordar com os seus exemplos extremos, preciso dizer-lhe que, de fato, nem sempre uma existência se continua a outra, e que o espírito, realmente, traz dentro de si muitas “possibilidades” do que virá a ser em sua reencarnação.
O espírito, ou seja, o homem, fora e dentro do corpo, vive sujeito às influências que recebe e sob elas se desenvolve, não olvidando, todavia, de que ele, igualmente, é um ponto de influência para terceiros.
Antes de reencarnar, o espírito sente-se atraído pelos “laços” que ele mesmo cria com a Lei que lhe determinará o renascimento – o espírito não logrará fugir à situação que lhe for afim, ou com a qual estabelecer sintonia. Veja o exemplo das espécies de pássaros – ninguém vê um tucano fazendo parte de um bando de rolinhas, e nem um golfinho vivendo em meio a tubarões...
Não sei se você está entendendo, mas, em parte, você tem razão, porque sei de muitos espíritos que, deixando o corpo em quase completa inconsciência do que seja a vida além da morte, reencarna depois, quase de imediato ou não, sem maior consciência do que está lhe acontecendo em sua volta à Terra.
Para que o espírito possa renascer no corpo físico com algum proveito de ordem espiritual – proveito mínimo sempre existe! –, escolhendo, direta ou indiretamente, condições que lhe favoreçam no aprendizado, ele carece, intimamente, de maneira consciente ou não, de desejar o seu crescimento, ou aprimoramento, pois, caso contrário, ele estará, sim, sujeito a existências que não lhe acrescentem tanto, ou nas quais, por vezes, possa até se complicar mais.
Como já tivemos oportunidade de dizer alhures, essa história de que toda reencarnação é sancionada por um “Instituto de Reencarnação” não é assim – que o digam aos muçulmanos, por exemplo, que, antes de reencarnarem, eles carecem de se submeterem ao referido “Instituto”, ou mesmo aos católicos ferrenhos que, do Céu, não querem descer à Terra...
Apenas para não me alongar, faço coro com você quando você diz acreditar que há espírito que volta à Terra “apostando na sorte grande”, ou seja, aventurando-se, como creio que a maioria dos indianos reencarnacionistas creem que seja a reencarnação: uma aventura cósmica, um eterno ir e vir sem mais claro objetivo de ordem evolutiva.
Terminando, digo a você que, em realidade, embora, do ponto de vista quântico, a distância entre berço e túmulo seja incomensurável, do ponto de vista moral, para a maioria dos espíritos terrenos, ela não mede mais que alguns poucos centímetros, que, à semelhança dos coelhos nas barracas das festas de quermesse, quando soltos do balaio em que estão presos, entram na primeira casinha-toca em que conseguem entrar, também sem saberem por e para quê.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 24 de outubro de 2025. (*)
(*) Publicado antecipadamente devido a compromisso no 18º Encontro dos Amigos de Jesus Cristo com Chico Xavier e sua Obra Espírita-Cristã, sendo realizado na cidade Araçatuba – SP, nos dias 24, 25 e 26 de outubro.