Mediunidade e Obsessão
Em “O Livro dos Médiuns”, Allan Kardec, sob a inspiração dos Espíritos da Codificação, escreve que médium é todo aquele que sente a influência dos espíritos em um grau qualquer... Não obstante, quando discorre sobre o problema da obsessão, afirma que ela é o império que os espíritos obsessores exercem sobre as suas vítimas...
Note-se que a “linha divisória” que separa um estado do outro – o mediúnico do obsessivo – é muito tênue, e que, sem a indispensável vigilância, alguém pode, com certa facilidade, transitar do estado mediúnico saudável para o estado mediúnico patogênico.
Quando atuava no Sanatório Espírita de Uberaba, na condição de médico psiquiatra, mas, principalmente, de espírita, percebia, com nitidez, e lamentava, que tantos médiuns, que poderiam ser eficientes tarefeiros na Doutrina, estavam entregues à obsessão.
Quantas faculdades de psicofonia vampirizadas por entidades devotadas ao ódio e à vingança, cedendo, com facilidade extrema, passividade aos inimigos de outrora – inimigos daqueles pobres pacientes que, nesta situação por longo tempo, tangenciavam a loucura, recebendo, de colegas outros, o diagnóstico de “esquizofrenia”.
Poucos foram daqueles pacientes que, libertados de seus algozes invisíveis, não permaneceram com sequelas, ou que, uma vez “curados”, não quiseram se comprometer com a mediunidade – constrangidos na obsessão, de livre e espontânea vontade nada queriam com a mediunidade.
Refiro-me ao assunto, en passant, porque, na atualidade, registramos muitos medianeiros que, tendo começado bem em suas atividades mediúnicas, depois, sem a necessária vigilância, extrapolam eles próprios, facilitando o assédio dos espíritos que terminam por lhes adoecer as faculdades.
Necessária, pois, se faz muita cautela da parte de todos os que laboram no campo mediúnico, de vez que, como pontificou Kardec, a obsessão é uma irmã desviada da mediunidade – ambas têm os mesmos genitores, ou seja, a sensibilidade psíquica, possuindo assim a mesma genética, inclusive física, todavia, segundo antigo ditado que eu ouvia de minha mãe, “os dedos das mãos não são iguais”...
Profundamente lamentável observar, em nossa gleba de atividades doutrinárias, tantos médiuns sanos tornando-se insanos, simplesmente por conta de vaidade e personalismo!...
Estendendo os conceitos do Codificador, de vez que, sim, SOMOS TODOS MÉDIUNS, segundo o título de valiosa obra mediúnica escrita do Mais Além por Odilon Fernandes, todos os espíritas somos passíveis de padecer o estado obsessivo, quer no exercício ostensivo ou discreto de nossas faculdades.
Outra vez: cuidemos da vigilância!...
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 27 de abril de 2025.